Eleições Brasil

Campanha na TV foi um dos pontos dos altos do plebiscito

A seguir, a terceira matéria da série sobre o plebiscito de 1993

Levada à TV, a campanha do Plebiscito sobre forma e sistema de governo foi marcada por uma guerra de narrativas e estratégias, ao longo de 18 minutos diários divididos entre as frentes.

No material que foi ao ar em 6 de abril de 1993, a duas semanas da eleição, a frente parlamentarista fez duros ataques ao presidencialismo, responsabilizando-o por crises que atingiam o governo Itamar Franco, bem como optando por, didaticamente, esclarecer os papéis que caberiam ao presidente, ao primeiro-ministro e ao próprio Congresso Nacional com a vigência do parlamentarismo.

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Revezaram-se nas explicações o governador Luiz Antônio Fleury, o prefeito de Campinas, Magalhães Teixeira (PSDB), o ex-prefeito do Rio de Janeiro, Marcello Alencar (em fase de transferência do PDT para o PSDB) e o cineasta Arnaldo Jabor. Ao final, o aviso em tom fatalista: “Ou o Brasil muda agora, ou não muda nunca mais”.

A campanha presidencialista registrava situação pitoresca. O governador Leonel Brizola reivindicara espaço próprio para o PDT fazer diariamente a defesa do presidencialismo, numa campanha feita à parte em relação à frente presidencialista, tendo conseguido autorização do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Naquele 6 de abril, Brizola apontou que Índia, Bangladesh, Paquistão, Somália e outros países africanos eram parlamentaristas há décadas e apresentavam, em suas palavras, “mais miséria que nós”. A questão, para ele, não estaria na mudança do sistema de governo, mas na superação do “modelo econômico de natureza colonial” vigente no país.

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Enquanto Brizola atuava intencionalmente como estranho no ninho presidencialista, o programa oficial da frente presidencialista trazia o ator Milton Gonçalves, âncora da campanha, rebatendo críticas do ministro Antônio Britto ao presidencialismo, em programas anteriores, bem como o registro de pesquisas indicando aumento das intenções de voto pró-presidencialismo.

Menos argumentativo que a campanha adversária naquela data, o programa presidencialista apresentou um festival de atividades de rua em que lideranças políticas, sindicais e estudantis defendiam a manutenção do presidencialismo, em capitais como Goiânia (GO), Belém (PA), Fortaleza (CE) e Campo Grande (MS), além de Dourados (MS), Coxim (MS) e Três Lagoas (MS). A atração deu destaque a falas do governador de Goiás, Iris Rezende (PMDB), e de Orestes Quércia, para quem “as elites, os ricos e privilegiados são parlamentaristas, enquanto o povo simples e trabalhador vota no presidencialismo”.

O embate entre República e Monarquia, embora mais discreto, também se fazia sentir em 6 de abril de 1993. A segunda fala mais contundente do programa presidencialista, a cargo do em geral discreto Marco Maciel, foi uma crítica contundente à Monarquia:

– A volta da Monarquia é deixar de ser cidadão para se converter em súdito – pregou o veterano político pernambucano, uma das mais expressivas lideranças da Arena e do PDS durante o Regime Militar (1964-1985), quando vigorou a ditadura no país, para a plateia que acompanhava o comício em Goiânia.

Em tom similar ao do programa parlamentarista, os monarquistas apresentavam aos telespectadores manchetes que destacavam as propostas da Monarquia para o Brasil. Ganhou destaque um artigo do cientista político Hélio Jaguaribe no Jornal do Brasil com críticas históricas à República no país, desde sua vigência, a partir de 1889. O programa destacou que a análise de Jaguaribe merecia credibilidade pelo fato de ele não se manifestar favoravelmente à Monarquia, apontando-o como analista isento para fazer tal avaliação. O tom propositivo era recheado de imagens em que o deputado Cunha Bueno percorria o país em atividades de campanha.

O encerramento do programa contou com o discutível slogan da campanha que coroava o jingle monarquista e no qual cabe a interpretação de se tratar de um contraponto à pregação presidencialista e republicana de Marco Maciel:

– Vote no Rei!

Confira o programa exibido em 6 de abril de 1993:

https://www.youtube.com/watch?v=_-bLzgwoWgM
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