Eleições Brasil

Análise do novo cenário digital nas eleições 2020

Por Rafael Angeli (*)

Já é possível perceber a movimentação política nas redes sociais visando as eleições deste ano tanto por parte dos que já possuem mandatos, como por aqueles que pleiteiam algum cargo nos Poderes Legislativo ou Executivo.

A corrida eleitoral já começou no mundo online, uma vez que na lei eleitoral não há quase nenhum empecilho na utilização dessa ferramenta para fazer propaganda de autoimagem, divulgação dos projetos e ideias do pré-candidato. Dá para fazer “quase” tudo desde que se observe com cuidado para não incorrer em campanha extemporânea.

Nesse período de pandemia, os acessos se expandiram, o aumento do tráfego está deixando a internet lenta, com mais pessoas usando. O tráfego está com o limite acima do normal.

O que tenho observado, no entanto, que a maioria dos pré-candidatos se lança no marketing digital sem qualquer tipo de planejamento, e os resultados acabam sendo catastróficos, pois não há um planejamento digital ou algum profissional de web. O marketing digital, atualmente, é composto por uma sucessão de detalhes. É preciso organizar todos os passos, muito bem definidos, de modo que as diversas ações não acabem por se sobrepor, sob o risco de perder seu verdadeiro potencial.

Entretanto, a realidade de grande parte dos parlamentares eleitos é bem diferente da ideal. Muitas vezes há apenas um jornalista, o qual é responsável por criar as pautas para os informativos impressos, posts para o Facebook e outras redes sociais, acompanhar as reuniões para fotografar e ainda realizar o atendimento como assessor de impressa.

E o restante da equipe? Para se ter sucesso nas redes sociais, o primeiro passo é montar um grupo qualificado, composto por diferentes profissionais da área de comunicação e elaborar um cronograma de trabalho, passo fundamental para uma sinergia do marketing digital como forma de potencializar cada ação do candidato.

Também é necessário analisar, semanalmente, o cenário e como o conteúdo postado foi recebido pelo público. Com base neste relatório é possível mudar o posicionamento da figura política em seus canais digitais buscando maior assertividade aumentando o engajamento com os seguidores e potenciais eleitores.

Qual a diferença entre marketing digital e mídias digitais?

As mídias digitais são todas as possibilidades para se atingir alguns dos muitos objetivos do marketing digital. Já o marketing digital é o criador das estratégias de comunicação que têm como aliado as várias ferramentas digitais para serem utilizadas nos processos e procedimentos.

Existem dois cenários para que façamos uma análise. No primeiro caso situamos os políticos com mandato. Sempre que estão em atividade ou em visitas às bases eleitorais, postam nas redes sociais para que o eleitorado fique informado sobre a sua atuação. O ápice da divulgação deve ser feito quando são liberadas emendas nas bases eleitorais. É hora de mostrar para a população e dar publicidade ao feito.

No segundo cenário, temos os pré-candidatos, que, até o momento podem se posicionar como pré, mas já explora a rede com os seus projetos e boas ações. Os novatos que querem emplacar a candidatura, geralmente criam projetos sociais e exploram essas ações nas redes como assunto principal na aproximação com o eleitorado, que pode não estar ciente das intenções eleitorais. Outros são pré-candidatos que fundam jornais para se apresentarem ao público, em tempos de pandemia somente jornais online estão obtendo sucesso.

Vale ressaltar que no momento, com um grande desgaste político, ninguém quer ou tem paciência de ouvir propostas, então os projetos sociais são uma forma de mostrarem que já fazem “muito pela sociedade”. A exploração disso nas redes sociais se usada com planejamento, segmentação de público e geolocalização, tem resultado bastante promissor, pois humaniza o candidato.

De um modo geral, exemplo disso pode ser percebido nas eleições municipais, em 2016. Alguns dos candidatos não posavam para as fotos e utilizavam linguagem popular nos debates e discursos. Ao falar que “eu não prometo nada”, ele dizia o que a população queria escutar, pois já estava cansada de promessas vazias que não são cumpridas passadas as eleições.

A linguagem para causar proximidade com os eleitores e futuros eleitores deve ser pensada e readequada constantemente, pois as pessoas estão descrentes com os governantes pelas incontáveis notícias mostrando os esquemas de corrupção.

Em algumas campanhas eleitorais é comum a contratação de agências para cuidar da imagem do candidato nas redes sociais, com valores expressivos podendo alcançar valores acima dos milionários.

Nesse cenário é importante observar que muitas vezes a equipe que irá gerenciar a campanha online muitas vezes nem teve contato com o candidato, não conhece as peculiaridades de seu público e acaba não alcançando o objetivo desejado. Nesses casos, a equipe trabalha na tentativa e erro e até conseguir achar o modelo ideal já se passaram os 45 dias de campanha e pode ser tarde demais.

Técnicas de produção e divulgação em redes sociais:

Horário de publicação

O analista de redes sociais deve acessar o relatório da semana anterior para saber quais os temais mais “bombaram” e horários de pico dos seguidores com o objetivo de aumentar o engajamento. Sempre menciono em palestras que os horários após o trabalho, quando as pessoas estão voltando para casa ou indo para faculdade seja de ônibus, metrô, principalmente nas grandes cidades, estão sempre com o celular nas mãos conectadas. Este é o momento de publicar as ações mais relevantes.

Patrocínio na rede

Ainda não foi definido como ficará a publicação nas redes sociais durante o período eleitoral. No momento o impulsionamento só é permitido fora do período eleitoral, portanto o momento é de aproveitar investir bastante para alcançar públicos que o parlamentar e/ou futuro candidato não alcança ainda. Planejar, criar o cronograma e calcular o Retorno Sobre Investimento (ROI), que é muito utilizado para ajudar na decisão de investimentos em novos negócios e projetos, pois indica o percentual de retorno.

Vídeos na rede

A maioria posta vídeos com duração de 3 a 10 minutos. Hoje em dia nas redes você só retém os internautas com vídeos de no máximo 30 segundos. Um fator bem relevante a ser pensando é: a maioria dos usuários estão no mobile (celular), se não tiver uma boa conexão o vídeo trava e perdemos a paciência de esperar o carregamento. É mais um potencial eleitor que não será atingido pela publicação.

Fotos e vídeos no WhatsApp

Enviar fotos a qualquer horário e vídeos com mais de 30 segundos têm que ser fora do horário de pico, pois se estiver no mobile e a banda estiver acabando, a maioria das pessoas não baixa para não finalizar o pacote.

Concluindo, em poucos meses estaremos no período eleitoral. Muitas vezes quem chega na frente não são os que saem na frente, mas os que planejam e executam melhor as ações que se refletirão na conquista do eleitor. Mais do que qualquer outra eleição, a deste ano será a que mais investimentos terá na divulgação em redes sociais. Não tenho nenhum receio em afirmar que será a eleição da “Inteligência Digital”. Cada dia que passa é um dia a menos na conquista do voto.

(*) Rafael Angeli é especialista em marketing digital, atuação no Congresso Nacional.

LinkedIn: linkedin.com/in/rafael-angeli-01704432

Fonte: O Tempo

 

Os artigos assinados não refletem necessariamente a opinião do portal Eleições Brasil, sendo de inteira responsabilidade de seus autores.

 

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