Eleições Brasil

Quando a verba e o verbo sentam pra negociar

Por Ana Cançado (*) 

Alemanha, Dinamarca, Finlândia, Islândia, Noruega, Nova Zelândia, Taiwan – as líderes desses países estão no topo da gestão mundial. Isso é fato e como tal, servirá de parâmetro para outros perfis de lideranças no planeta.

A questão de gênero na política sempre foi guardada a ferros, já que o ambiente é dominado por homens. No Brasil, a representatividade feminina nos poderes é de pouca expressão em quantidade, mas tem qualidade. A briga por território vem se acirrando nos últimos anos, com a grita das mulheres por vagas nas disputas, por verbas legítimas, por espaço.

Ocorre que, no país tropical, o eleitorado tem maioria de biquíni e há anos a legislação conseguiu triunfar pelas brechas do tempo. A lei determina mínimo de 30% para candidaturas de um dos gêneros – vale observar, o texto foi elegante na escriba: 30% para candidaturas de um dos gêneros e 70% de outro. Portanto, que 30% seja de mulheres é contingência.

Antes, porém, é importante interromper os crimes de corrupção em gabinete partidário, escambo de uma graninha por uma vaga simbólica. O noticiário nacional deu conta de uma lambança na eleição mais recente. O STE condenou uma coligação inteira por se beneficiar de candidaturas laranja de mulheres, no interior do Piauí. Ainda pela caneta da ministra Rosa Weber, os TREs deverão criar comissões de gênero, Barroso endossou. O poder Judiciário dará o tom nos Tribunais.

Os partidos, em maioria, parecem ter esquecido a função original, o papel que deveriam desempenhar nas sociedades, que é criar espaços reais de representação equilibrada, qualificar de modo permanente os quadros – pessoas e competências -, debater problemas e soluções para as cidades, para todos os temas das cidades. Ouvir as comunidades. Saber quem são. Qual partido faz isso? Uns até ensaiam o falsete de fazê-lo, mas… Qual nada! Alguns Partidos no Brasil são parecidos com alguns Sindicatos no Brasil, querem o contribuinte, mas não querem o fardo de aturar o eleitor na rotina, onde se esvai a promessa entre eleição e outra.

Os partidos se prestam a acomodar estruturas e gorduras familiares, capitaneadas por homens, com advogados homens, contadores homens… Perto do pleito a verba e o verbo sentam pra negociar. Fazem planilhas e entre itens, vão precisar de mulheres, para compor os quadros que poderiam ter criado, de fato. Vai entender! É a hora das cunhadas, das primas, das mãezinhas, ou, como dizem os portugueses: das raparigas. Aulas de Ética na Política fariam bem a todos.

Já reparou: homem falando forte em plenário é eloquência; mulher é histeria. E ainda tem alguém pra argumentar que só as mulheres têm útero (hister). Quando penso nisso, quero logo saber por que, nem tanto quem, mas por que mandaram matar a vereadora Marielle. O tal protagonismo de mulheres na política ainda precisa de muitas respostas.

(*) Ana Cançado é publicitária, Filósofa pela Universidade Federal do Ceará, aprendiz de paraquedismo. 

Os artigos assinados não refletem necessariamente a opinião do portal Eleições Brasil, sendo de inteira responsabilidade de seus autores.

 

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