O governador de São Paulo Tarcísio de Freitas ainda não completou seis meses no cargo, mas já se posiciona como o substituto de Jair Bolsonaro para disputar as eleições presidenciais de 2026 caso o ex-presidente seja declarado inelegível pelo Tribunal Superior Eleitoral, o TSE. Sua ascensão se dá por uma combinação de fatores externos a ele, como a manutenção da polarização política no Brasil, o comportamento do eleitorado de direita e a confiança que a população deposita em seus governadores. Um plano de ação mirando o Palácio do Planalto até já começou a ser colocado em prática.
A estratégia de Tarcísio tem sido a de falar com os eleitores mais moderados e, ao mesmo tempo, estender a mão para os bolsonaristas que seguem uma cartilha mais ideológica. Em janeiro, o governador visitou o presidente Lula em Brasília e aprovou uma lei para o fornecimento de medicamentos à base de canabidiol, um dos componentes da maconha, pelo Sistema Único de Saúde. Mais tarde, liberou 750 mil reais para a Secretaria Estadual de Cultura, para financiar paradas ou ações para o público LGBTQIA+. O governador não esteve na Parada LGBTQIA+ que aconteceu no último feriado de Corpus Christi e está longe de defender a descriminalização das drogas, mas faz incursões cuidadosas nessas searas, para não melindrar os bolsonaristas.
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Os acenos de Tarcísio à direita bolsonarista ocorreram principalmente neste mês de junho. No dia 2, o governador participou, ao lado de Jair Bolsonaro, da formatura dos alunos do curso de ciências policiais de segurança e ordem pública da Academia de Polícia Militar do Barro Branco, em São Paulo. Tarcísio foi o paraninfo da turma. Na quinta, 8, o governador ajoelhou, orou e discursou no palco da Marcha para Jesus, que reúne milhares de evangélicos todos os anos na capital paulista. “Isso aí, gente, é um caminho. Um caminho para a benção para a nossa terra. Isso vale para o nosso estado, vale para o nosso país. O caminho é se afastar do pecado. É buscar a palavra de Deus. É ser obediente aos seus ensinamentos”, disse o governador vestindo uma camiseta com as palavras “Jesus vencedor invicto”.
A jogada de manter um pé no bolsonarismo e outro no centro político é intencional. “Falar com os militares e com os evangélicos é fundamental para ele, pois essa é sua base. Mas Tarcísio também precisa ampliá-la. Quando ele mostra que é um governador que conversa com o presidente da República, independente de ser um possível adversário, e traz para a sua órbita política pessoas que são da política tradicional, como Gilberto Kassab, seu secretário de governo, ele amplia essa base”, diz o cientista político Bruno Soller.
Tanto o aceno aos evangélicos como o discurso pela segurança funcionam muito bem em uma estratégia nacional. Isso porque Tarcísio precisará, em uma eventual candidatura, tornar-se mais conhecido e ganhar o eleitorado entre as classes mais baixas, principalmente no Nordeste. Uma maneira de obter isso pode ser se aproximar dos evangélicos e das pessoas que estão mais expostas à criminalidade. “O voto no Brasil não é regional, mas de classe social. Quanto mais classe social D e C2, mais voto no lulismo. Quanto mais classe A, B1 e B2, menos voto no lulismo. Essa é uma máxima desde 2006. O problema é que, enquanto no Sudeste nós temos 18% de classe D, no Nordeste esse índice é de 46%”, diz Bruno Soller.
Assista a entrevista de Bruno Soller sobre o plano Tarcísio logo abaixo: