Para sociólogo, crise política envolve PT e influencia eleições municipais

 

ptDo  Portal Meon

A crise política nacional se agravou nesta sexta-feira (4), depois que o ex-presidente Lula foi conduzido pela Polícia Federal para prestar seu depoimento no Aeroporto de Congonhas. A operação da PF foi deflagrada com base em investigações sobre a compra e reforma de um sítio em Atibaia, a sua mudança ter sido transportada para o local,  a relação desses episódios com empreiteiras investigadas e também sobre a compra de um apartamento triplex no Guarujá, reformado pela construtora OAS.

A investigação que atinge em cheio o principal nome do PT ocorre um dia depois da delação do ex-líder do governo no Senado, Delcídio Amaral (PT-MS), em que acusa a presidente Dilma Rousseff e Lula de tentarem interferir nas investigações no Judiciário e corromper a família de Nestor Cerveró para evitar que o ex-diretor da estatal não denunciasse José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente.

Manifestantes pró e contra o PT e Lula já estão nas ruas. Mas como será o impacto disso tudo nas eleições municipais que se aproximam? O portal Meon procurou especialistas, políticos e pré-candidatos para repercutir o tema.

Para o sociólogo professor Silvio Costa, do IBH – Instituto Básico de Humanidade, da Universidade de Taubaté (Unitau), ainda é prematura qualquer análise. “Ainda não sabemos como serão os desdobramentos desses fatos e nem qual o alcance deles. Estamos no meio do turbilhão”.

O vereador Wagner Balieiro (PT) afirma que o debate ficará restrito às questões locais, mas admite a influência da crise nacional. “A eleição municipal tem um caráter mais local, vai trabalhar muito a questão da cidade e as perspectivas que cada candidatura traz em investimentos, administração e propostas para cada uma das áreas. O cenário nacional tem influência, mas ela não é maior que as questões locais. Porém, esse acirramento que estamos vivendo no cenário nacional vai elevar o tom do debate político no dia a dia da população. Vai ser uma oportunidade para a militância do PT explicar e mostrar qual a real intenção dessa situação acontecida hoje”.

Se ainda não dá para prever o que acontecerá nos próximos dias no Brasil, ao menos já é possível avaliar que o Partido dos Trabalhadores é com certeza o maior prejudicado em todo o processo. Com as eleições se aproximando, será inevitável a ligação desses fatos com os candidatos a prefeito e vereador em outubro.

Claude Mary de Moura (PV), pré-candidata à prefeitura de São José dos Campos, foi taxativa. Para ela, o PT está comprometido com as denúncias. “Os impactos serão muito grandes aqui em São José. A população não aguenta mais desonestidade e falta de transparência e busca restabelecer a confiança no ambiente político. O PT, de alguma forma, tem um comprometimento grande com aquilo que está acontecendo no Brasil, mesmo o PT de São José dos Campos” afirmou.

Segundo o sociólogo professor Silvio Costa, normalmente as questões nacionais não influenciam a ponto de modificar o resultado das eleições municipais, isso porque o eleitor tem o foco nos problemas de sua cidade. “O que podemos dizer a respeito das eleições municipais, é que elas são conduzidas pelas demandas locais, então os temas de ordem nacional não costumam ter tanta implicação no resultado das eleições no debate no processo eleitoral”, disse.

Mas quando o assunto envolve o Partido dos Trabalhadores, Costa é mais incisivo. “O processo eleitoral já começou e vemos que já existe uma dificuldade do PT para ter um quadro de candidatos. Pessoas com boas condições de voto para vereador ou até mesmo para prefeito estão mudando de partido, porque é muito difícil enfrentar o debate nesse momento. É fato que nas eleições municipais desse ano o Partido dos Trabalhadores não terá a mesma votação expressiva de eleições passadas”.

O pré-candidato a prefeito de São José dos Campos Felício Ramuth (PSDB), também aponta para a desconstrução do PT nas eleições municipais. “O partido que governa a cidade é o PT e isso vai refletir diretamente na campanha do atual prefeito. Eu não tenho dúvida, já existe um impacto na política local. Infelizmente a política tem aparecido muita mais associada a polícia do que de fato onde deveria aparecer, que é na melhoria da vida das pessoas, com propostas para fazermos uma cidade, um Estado e um país melhor”, afirmou.

Nesses momentos de grande turbulência política, há quem se preocupe mais em garantir a solidez das instituições. O Deputado Federal Eduardo Cury (PSDB) publicou nas redes sociais um texto em apoio às investigações. “Neste momento de extrema gravidade, devemos nos unir. Todas as instituições democráticas estão funcionando e devem receber apoio dos brasileiros de bem. Toda a força às investigações e ao trabalho realizado pela Polícia Federal, Receita Federal e Poder Judiciário.”

Wagner Balieiro alerta que a estratégia da oposição é desestabilizar o governo, aniquilar o PT e destruir a imagem de Lula. “Essa situação quase beira um estado de exceção, é lamentável. A partir de agora teremos uma organização mais forte dos movimentos sociais, da militância do PT, dos sindicatos e de todos que pensam que um governo de esquerda pode realmente mudar o Brasil e não pode aceitar, de maneira nenhuma, o absurdo que aconteceu no dia de hoje” disse.

Tudo que se deseja é o esclarecimento dos fatos e que o país retome seu caminho pelas vias democráticas, mas há uma preocupação quando um líder de grande apelo popular tem seu nome envolvido em um escândalo de corrupção, pois um acirramento do debate pode desestabilizar o estado democrático de direito. Segundo o professor Silvio Costa, discursos e posicionamentos radicais podem aumentar a tensão e não há como prever qual será a reação do PT e de seus militantes. “O fato de hoje, sobre a prisão de Lula seu discurso, acirra mais o debate e as tensões entre as diferentes posições. De alguma forma, o militante que está escondido quieto, calado, de repente sente que é hora de ir pra rua se manifestar” afirmou.

O sociólogo tem dúvida se haverá grandes manifestações como as do início de 2015 pelo impeachment da presidente Dilma, já que mesmo diante de muitas denúncias o movimento perdeu força e foi se esvaziando. “A pergunta é: esse movimento agora vai ganhar força com as novas denúncias? Que leitura a população está fazendo de tudo isso? É realmente a leitura de que o Brasil está sendo passado a limpo? Ou reza sobre esse processo muitos questionamentos? Até na própria imprensa temos ouvido falas mais ponderadas, conciliadoras. O Brasil está em suspense! “

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