Pela segunda vez, as eleições municipais no Brasil deverão se dar em meio a um grande tema que mobiliza o país. Se hoje a pandemia provocada pelo coronavírus suscita debates até mesmo sobre a prorrogação do pleito, em 2016 o grande tema em debate era outro: há quatro anos, no dia 17 de abril de 2016, a Câmara dos Deputados autorizou o Senado a dar prosseguimento ao processo de Impeachment da então presidenta Dilma Rousseff (PT).
Quatro anos atrás, em um domingo no qual o país praticamente inteiro acompanhou, por quase dez horas, a sessão da Câmara dos Deputados, a matéria foi aprovada por larga margem: 367 votos favoráveis e 137 contrários. Foram registradas ainda sete abstenções e duas ausências.
A decisão, cercada por grande controvérsia e que dividiu o país, dando desdobramento a fatos que se desenhavam desde 2013, teve como justificativa principal a acusação de que a então gestora teria praticado pedaladas fiscais, o que teria desrespeitado a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF).
Pesou favoravelmente à aprovação da matéria a condução do processo pelo à época presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), desafeto público de Dilma e do PT. Foram emblemáticas as cenas em que deputados da oposição e da situação se manifestaram sobre o tema ao declarar seu voto, gerando reações das duas torcidas que se posicionaram diante do Congresso Nacional, como se estivessem diante de um jogo de futebol – e que, como tal, tiveram de ser posicionadas nas margens esquerda e direita do parlamento.
Ao longo do ano, o fato teve desdobramentos nas eleições municipais, resultando em perda de espaços para o PT, sobretudo nas capitais e grandes centros urbanos. Na mais emblemática eleição, João Doria (PSDB) venceu a disputa pela prefeitura de São Paulo logo no primeiro turno, derrotando o então candidato à reeleição Fernando Haddad (PT). No Rio de Janeiro, após um disputado segundo turno, Marcelo Crivella (PRB), opositor da presidenta afastada, derrotou Marcelo Freixo (PSOL), contrário ao Impeachment.