A partir de perguntas formuladas por jornalistas, especialistas das mais diversas áreas dizem quais são fatores que vão influenciar o voto do brasileiro e como eles acreditam que serão as eleições.
MURILO HIDALGO, diretor-presidente do instituto Paraná Pesquisas, dedica-se há 30 anos ao estudo e elaboração de pesquisas de opinião pública. É economista com pós-graduação em marketing e ex-professor universitário.
O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), e o apresentador de televisão Luciano Huck, caso queira se candidatar. O Ciro Gomes (PDT) também conversa com um pedaço desse eleitorado. E não podemos descartar a aparição de um outsider, um grande empresário, por exemplo, que não aparece no momento mais pode deslanchar na campanha. Entre Doria e Huck, pelas pesquisas que temos até este começo de 2021, o Huck leva vantagem.
RODRIGO CONSTANTINO, presidente do Conselho do Instituto Liberal. É formado em Economia pela PUC-RJ, e tem MBA de Finanças pelo IBMEC. Trabalhou no setor financeiro de 1997 a 2013. É autor de vários livros, entre eles o bestseller “Esquerda Caviar”. Foi colunista da revista Voto, dos jornais Valor Econômico, O Globo, Zero Hora, do site R7, e das revistas Veja e IstoÉ. É colunista da Gazeta do Povo, do ND, da revista Oeste e comentarista da Jovem Pan. É membro-fundador do Instituto Millenium. Foi o vencedor do Prêmio Libertas em 2009, no XXII Fórum da Liberdade.
O centro tem várias opções, que eu vou chamar de centro-esquerda, na verdade. Tem o João Doria, o Mandetta, o Luciano Huck, o próprio ex-juiz Sergio Moro. Todos eles têm uma visão progressista nos costumes, uma pegada muito mais à esquerda. Algum desses nomes aí provavelmente vai sair desse bloco chamado de “frente ampla”.
O mais ambicioso, que vem costurando ou tentando costurar acordos para se viabilizar é, sem dúvida nenhuma, o governador João Doria. Eu acho que ele seria um candidato provável. Se ele conseguir pacificar o próprio partido, porque ele foi muito apressado em tentar atropelar os caciques partidários, neutralizar o próprio governador Eduardo Leite (RS) e isso gerou insatisfação. Mas, se ele conseguir esse movimento de “expulsar” o próprio Aécio Neves e ter o controle do PSDB, vai ser ele o candidato. Embora, na minha visão, tenha baixíssima probabilidade de chegar em um segundo turno.
GUILHERME MACALOSSI, jornalista, apresentador, redator e radialista. Apresenta o programa “Confronto”, na Rádio Sonora FM, e o programa “Cruzando as Conversas”, veiculado pela RDC TV, emissora de TV a cabo no Rio Grande do Sul. Trabalhou na agência Critério – Resultado em Opinião Pública, e já escreveu artigos para o site do Instituto Liberal. Na Gazeta Povo, produziu o programa “Imprensa Livre” e também mini documentários sobre temas variados publicados ao longo de 2019.
O centro, assim como a esquerda, também está em transe e perdido entre múltiplas potenciais candidaturas. Todas elas muito problemáticas. Eu identifico três, até aqui, como aqueles que têm sido mais cotados, que despontam, mas todos obviamente com seus próprios problemas.
O primeiro nome é o do Luciano Huck. Empresário bem-sucedido, nome muito popular. Mas a política é o campo dos posicionamentos: Você é a favor do quê? Você é contra o quê, você busca o quê? Luciano Huck, apesar de ser um nome que potencialmente inspiraria apoio, até agora não disse a que veio. Quer dizer, estamos em 2021 e ele não tem o que dizer sobre reforma tributária, reforma previdenciária, sobre armamento, sobre situação fiscal. O que nós vemos é um conjunto de platitudes. E inegavelmente enquanto apresentador de televisão, Luciano Huck seria identificado pela esquerda e pela direita como candidato da Rede Globo. Isso é um fato e ele será cobrado por isso. Eu não vejo o Luciano Huck como um nome capaz de, em uma disputa que provavelmente será muito renhida, responder à altura das provocações e dos questionamentos. Ele não tem a casca grossa. É um candidato que está absolutamente desprovido de substância a não ser obviamente – e isso é o que o catapulta – a força do seu próprio nome. Mas, na disputa, no dia a dia da eleição, o nome em si não bastará. Qual que é o conjunto de ideias, quais são os valores, qual sociedade ele pretende liderar? Que direção o país tomará sob a sua condução?
O segundo nome é o de Sergio Moro, que aparece muito bem nas pesquisas, mas que também vai enfrentar, na minha opinião, duas cobranças básicas claras. A primeira: questão da Lava Jato e o vazamento das conversas dele com o Deltan Dallagnol e inegavelmente a sua participação no governo Jair Bolsonaro. Ele não pode tirar o corpo fora, visto que foi ministro da Justiça por um período considerável de tempo (mais de um ano). Ele foi o juiz que condenou Lula e que depois passou a integrar o governo daquele que foi beneficiário principal do fato de Lula não ter participado da eleição anterior. Isso vai ser alvo de uma cobrança muito forte.
A segunda cobrança, e que faz todo sentido, é com quem Sergio Moro governa? Com que Sergio Moro vai dialogar, porque ele é muito rejeitado na política. É improvável que, na próxima eleição presidencial, a Câmara dos Deputados e o Senado sejam renovados a ponto de Sergio Moro passar a ser um nome palatável. Obviamente o Executivo vai ter que ter uma relação com o Legislativo. Sergio Moro parece ser novamente aquele nome que representa a antipolítica e nós estamos vendo aí no que que a antipolítica deu em politicagem da mais pesada. Então, é necessário perguntar: Sergio Moro, você governará com quem? E mais: qual é a sua visão de país? Porque, além da questão do combate à corrupção dentro da visão e da linha defendida pelo lavajatismo, eu não vejo argumentos e opiniões de Sergio Moro sobre outros assuntos que também são importantes para o Brasil e que não estão apenas dentro do campo da moral e da ética, existem “n” fatores que precisam ser considerados. Então, Sergio Moro rejeitado por muitos, ele vai governar com quem? E ele vai propor o quê? Aliás, vai se candidatar por qual partido? São as perguntas que ficam.
E, por fim, você tem o PSDB. Você tem o nome principal do João Doria, que é o governador de São Paulo. Surge por fora e começa a ganhar algum tipo de apoio o governador do estado do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite. O PSDB é o partido do conflito desde sempre. Havia uma certa unidade na época do governo Fernando Henrique Cardoso, mas isso foi lá nos anos 90, faz muito tempo e mesmo naquela época quem segurava as rédeas era o Sérgio Motta. Após a morte dele e a não eleição de José Serra, em 2002, quando ele foi derrotado para o Lula, o PSDB entrou em uma crise contínua dividido em alas ligadas a lideranças locais. E, durante todo o período petista, o PSDB se viu dividido em esferas de influência do Geraldo Alckmin, do Aécio Neves e do José Serra e agora nós estamos vendo uma nova divisão interna. De um lado João Doria e do outro, claro em menor grau ainda, o Eduardo Leite.
O Joao Doria tem uma rejeição muita alta. Ele não é bem visto nem dentro do estado de São Paulo e teria dificuldade de se reeleger. Não me parece ser o projeto dele. O João Doria tentou, aliás, impor a sua candidatura ao PSDB em uma reunião que não foi bem-sucedida e o movimento de muitas lideranças inconformadas com João Doria foi buscar Eduardo Leite. Qual é o ativo? Um ativo importante para João Doria: ele foi atrás da vacina e isso é algo importante. Eu acho que isso tem um simbolismo, mas será que isso basta para vencer a eleição? Ele vai disputar a presidência com Bolsonaro sendo representante da vacinação. Mas será que não vai recair sobre ele também o inegável problema relativo ao efeito econômico dos fechamentos durante a pandemia? Ele vai ter que de alguma maneira, se candidato for, se desvencilhar dessa provocação, desse argumento contra ele. Ele tem um grande mérito, um grande ativo que é a vacina, ele foi atrás da vacina, conquista política dele, mas ao mesmo tempo ele tem uma ampla rejeição que vem se acumulando ao longo do tempo desde que ele largou a Prefeitura de São Paulo. Essa rejeição ao nome de João Doria pode ser um complicador para uma eventual candidatura dele à presidência da República.
Já o Eduardo Leite vai fazendo um bom governo, no Rio Grande do Sul, mas tem o problema de ser desconhecido. Ele não é conhecido no restante do Brasil. Isso significa que é impossível para Eduardo Leite ser candidato? Não, não me parece ser impossível. Ele provavelmente vai caminhar na esteira da situação do Doria. A depender do que Doria conseguirá na sua legenda, no PSDB. O fato de ele ser, entretanto, desconhecido lhe dá um campo muito grande para crescer. O Eduardo Leite tem atributos. É um sujeito extremamente hábil em construir consensos. No Rio Grande do Sul, ele praticamente não tem oposição e vai colhendo resultados econômicos importantes em um estado que está falido. Então, de repente isso pode ser uma vitrine. Quer dizer, como o estado do Rio Grande do Sul estará daqui a um ano, estará em que condições? Certamente não vai ter superado a crise, que é muito profunda, mas se já estiver consideravelmente melhor, sem dúvida, é algo que ele pode mostrar em uma eleição que vai também dizer muito sobre a situação econômica, sobre a necessidade de reformas.
Ele também tem o mérito de ser um sujeito que é afável, tem um temperamento que é reconhecido por todos como muito temperado, como alguém bastante centrado. E isso pode representar, talvez, algo a ser visto como positivo pelos eleitores em uma eleição que tende a ser bastante polarizada, como foi a eleição de 2018. Nesse contexto, ainda, o DEM, a meu ver, perde a força que tinha construído na eleição municipal (foi o partido que foi o maior vencedor do último processo político), mas com essa disputa na Câmara dos Deputados, a derrota do Rodrigo Maia, a posição do ACM Neto e essa divisão que se opera aí e com uma parte do DEM aderindo ao Bolsonarismo, você não tem as condições para o DEM criar uma candidatura. Se especulava que o Luiz Henrique Mandetta (ex-ministro da Saúde) pudesse ser candidato pela legenda, mas eu acho que depois dessa situação, se Mandetta vier a ser candidato, certamente não será pelo DEM. Esses são os caminhos do centro, que eu, neste momento, vejo para a eleição de 2022.
FLAVIO GORDON, doutor em Antropologia pelo Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social do Museu Nacional (UFRJ) e autor do best-seller A Corrupção da Inteligência: intelectuais e poder no Brasil (Record, 2017).
Não creio haver realmente um “centro” no espectro político brasileiro. O que há é uma esquerda não-petista e não-socialista, que tem na pose de “moderada” e “centrista” sua principal estratégia de marketing político. Trata-se de uma esquerda mais afim ao progressismo globalista que hoje impera nas organizações internacionais e no establishment midiático mundial. Ressalte-se: essa esquerda é tão ou mais ideológica quanto qualquer outra força política existente no Brasil, mas tem como principal estratégia político-eleitoral fantasiar-se de supra-ideológica, moderada e científica. Hoje, seus principais nomes, que poderão concorrer individualmente ou formar chapas, são aqueles já listados em resposta anterior: Doria, Moro, Mandetta e Luciano Huck.
GUSTAVO MAULTASCH, diplomata de carreira desde 2008, tendo atuado em uma série de projetos de modernização tecnológica e administrativa. É mestre em diplomacia pelo Instituto Rio Branco e doutorando em Administração Pública pela Universidade de Illinois-Chicago. Foi Network Fellow (2013-2014) do Centro de Ética da Universidade de Harvard. Em 2017, foi vencedor do Concurso de Artigos da V Conferência de Escola Austríaca, com o artigo “Liberalismo e bem-estar geral: um diálogo com a esquerda”.
O principal desafio do centro é que, em meio ao acirramento da retórica pública, torna-se difícil chegar ao segundo turno. Com Bolsonaro concorrendo à reeleição, caberia à esquerda oferecer uma opção de centro-esquerda verdadeira, que pudesse unir não apenas os eleitores mais de centro, mas também os mais à direita que estejam decepcionados com o atual governo. Note-se que falo de centro-esquerda de verdade, e não de uma esquerda (como PT, Ciro Gomes) que, no espectro político descalibrado do Brasil, muitos julgam erradamente como moderada. Sem essa união da esquerda em torno de uma centro-esquerda moderada, com nomes como Marina Silva, Cristovam Buarque ou até alguém jovem como Eduardo Leite, não acredito na viabilidade do centro.
No caso da centro-direita, o problema é diferente: até existe uma centro-direita com pautas sólidas, como é o caso do Partido Novo, por exemplo. E existem nomes que atraem setores da direita, como Sergio Moro. Mas como boa parte da direita funciona como uma reação à esquerda, a viabilidade da centro-direita depende de como a esquerda se apresentará. A centro-esquerda ditará o ritmo. Se vier um nome tradicional (como Haddad), as pessoas preferirão apostar em alguém que faça frente ao discurso mais estridente; seja Bolsonaro, seja alguém como João Doria.
Fonte: Gazeta do Povo