Meio Ambiente não dá voto no Brasil

Por Bruno Soller*

Meio ambiente não dá voto no Brasil, mas garante protagonismo político. Apenas 2% dos brasileiros, segundo levantamento feito em 2022 pela Atlas/Arko, consideram os problemas ambientais como os mais graves do País. As dificuldades na saúde pública, a falta de qualidade da educação, o desemprego, a corrupção e a pobreza são as grandes batalhas a serem enfrentadas pelos governantes, mesmo o País tendo vivenciado nos últimos anos desastres ambientais gravíssimos, como o ocorrido em Brumadinho, Minas Gerais.

Esse certo distanciamento com o tema não faz do brasileiro indiferente ao assunto. Pesquisa encomendada pela Confederação Nacional da Indústria apontou que 77% dos brasileiros se dizem muito preocupados com o meio ambiente e para 95% é possível alinhar progresso econômico com a conservação ambiental, em particular da região amazônica. Pode não ser a questão ambiental a força motriz para determinar o voto do brasileiro, mas, sem sombra de dúvidas, o assunto é de interesse do eleitor e pode gerar uma relação direta entre o candidato e quem o escolhe.

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Nesse ínterim, Marina Silva foi projetada em 2010 como candidata à Presidência da República, após sua experiência como ministra do Meio Ambiente, cargo que ela voltaria a ocupar neste atual governo Lula. Marina conseguiu, a partir da sua exposição global como líder ambientalista, ser a candidata com a melhor intenção de votos de uma terceira via no pós-redemocratização. Na sua primeira tentativa fez 19,33% dos votos e, em 2014, quando assumiu a campanha após o falecimento do ex-governador pernambucano Eduardo Campos, 21,32%.

O Partido Verde, que foi a primeira legenda que permitiu a Marina Silva ser candidata à Presidência, também já lançou Fernando Gabeira, Alfredo Sirkis e Eduardo Jorge para o Planalto. A saída de Marina Silva para a criação da Rede Sustentabilidade, no entanto, enfraqueceu a legenda, que chegou a ter relevância na política nacional, mas que ultimamente apenas sobrevive graças a uma federação feita com o PT, já que com apenas 6 deputados federais, o PV ficaria sem fundo partidário e tempo televisivo. Cabe ressaltar, que a própria Rede, idealizada por Marina, também só sobreviveu por uma federação partidária com o PSOL.

Essa diminuição dos verdes no Brasil contrasta com o movimento em nível global. No Parlamento Europeu, os verdes são a quarta força política, no Bundestag alemão, possuem 10% dos assentos, são 14% no parlamento austríaco e são o quarto partido em número de filiados no México, por exemplo. Todavia, mais do que agremiações partidárias, as pautas ambientais cada vez mais estão no cerne das grandes lideranças políticas mundiais. Joe Biden, presidente dos Estados Unidos, desde sua campanha sempre se comprometeu com as pautas ambientalistas, sendo um feroz defensor delas. Já como presidente, anunciou um pacote de 2,3 bilhões de dólares para infraestrutura ambiental e combate a condições climáticas extremas e desastres naturais.

Com 6.700.000 de quilômetros quadrados de área da Floresta Amazônica, orgulho nacional para 78% dos brasileiros, segundo pesquisa CNI, o Brasil é um grande ator global quando a pauta é meio ambiente e sustentabilidade. Desde a Eco-92, sediada no Rio de Janeiro, o Brasil se tornou liderança diplomática no assunto. O recém anúncio de que o país sediará a COP-30, em novembro de 2025, aumentou ainda mais as movimentações políticas brasileiras no campo internacional, projetando o Brasil como autoridade extrema na agenda. A escolha de Belém para receber o evento impacta não só na projeção internacional da Amazônia, já que é uma das principais cidades da região, mas no jogo político de 2026.

Helder Barbalho, governador reeleito do Pará, anfitrião da COP-30, tem se tornado uma importante liderança da agenda ambientalista em nível mundial. Recebido pelo Rei Charles III, do Reino Unido, que tem um histórico de ativismo ambiental, Helder tem roubado o protagonismo internacional de Marina Silva como referência política brasileira na área. Sua ascensão como player ambiental já tem causado rumores sobre o jogo eleitoral de 2026, ainda mais com a indefinição de Lula sobre a tentativa de concorrer a um quarto mandato.

O MDB, seu partido, que ficou em um hiato de 24 anos sem lançar candidatura própria à Presidência da República e que já vem de duas eleições apresentando alternativas ao eleitorado brasileiro – 2018 com Henrique Meirelles e em 2022 com Simone Tebet – pode buscar no governador paraense, que conseguiu o feito de se reeleger com 70,14% dos votos, uma nova cara para a corrida presidencial de 2026, eleição que pode ser a primeira de uma nova geração de políticos. Com 44 anos, Helder é cotado junto de outros nomes como Tarcísio de Freitas, com 48, Romeu Zema com 58, Fernando Haddad com 60 e Ratinho Jr, com 42.

Reeleito de maneira acachapante, fortalecido pela COP-30 e tendo o pai, senador Jader Barbalho, no Senado Federal, o irmão, Jader Filho, como Ministro das Cidades, a mãe, Elcione Barbalho, terceira deputada federal mais votada do Estado, a participação de Helder na contenda presidencial de 2026 é tida como muito provável. Resta saber em qual posição do jogo ele estará. Caso Lula venha a reeleição, sua vice será absolutamente disputada, e o nome de Helder, certamente fulgurará entre os postulantes com maiores possibilidades.

Ao conseguir transformar Belém em capital da Amazônia e sede da discussão global sobre meio ambiente, em uma época estratégica, faltando menos de 1 ano para a próxima eleição presidencial, Helder Barbalho mostra que a pauta ambiental é um ativo poderoso para projetar personalidades políticas. Numa construção exógena, de fora para dentro, o governador do Estado do Pará tem amealhado incentivadores nos quatro cantos do planeta para que esteja no próximo jogo eleitoral. A dimensão interna, contudo, que alcançará ao longo dos próximos anos será a fiel da balança para a concretização ou não desse fato.

Artigo originalmente escrito para o blog “De Dados em Dados“, do Estadão.
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