Marketing político: funciona?

O marketing político funciona, dentro de limites específicos, se as orientações e ações tomadas sejam na direção de uma tendência existente, ou na identificação de uma demanda potencial antes não muito visualizada, mas que represente algo que o mercado potencialmente quer.

Uma vez, um candidato disse-me que gostaria de fazer “uma campanha cientifica”. Disse-lhe que era um “mal começo”, porque a política é força da empatia na qualidade da representatividade. Marketing é gerúndio, “em se fazendo”, o que se faz.

Philip Kotler, professor emeritus da Kellogg School of Management da Northwestern University, Chicago, é considerado como o “pai” do marketing moderno. Em seu livro “Principles of Marketing”, ele formulou a teoria dos 4 P’s, product, price, place e promotion; produto, preço, localização e promoção. Portanto, o produto tem que atender as necessidades do cliente; o preço tem que apresentar bom custo/benefício; a localização da loja, a entrega dos produtos, ou o site de vendas tem que estar estrategicamente posicionado; a propaganda ou a comunicação tem que ser efetiva na promoção do produto. O produto tem que ser bom, ou não se vende. A Coca-Cola é ótima. A TV Globo é a melhor rede do país. Não se transforma tijolo em comida.

A politica é uma espécie de produto, muito mais complicado ainda. O produto, uma vez lançado, tem características definidas. A política é uma ação dinâmica na sequência de um período definido, com erros e acertos, oportunidades e dificuldades, a mudança contínua da ação dos candidatos e da percepção do eleitor. Mundo infindo, de temperança e ardor.

O marketing, se baseado em mentiras, não leva ninguém a lugar algum. Muito pelo contrário. Se o marketing em uma campanha, por exemplo, diz que tal candidato é “eficiente”, sendo que a característica básica do referido hipotético candidato é a ineficiência, o marketing tira votos deste candidato, pois que ressalta o que ele não tem ou o que ele não é.

Razões primárias e secundárias

Fernando Henrique Cardoso foi eleito em 1994 devido ao seu feito do Plano Real, que retirou o país da inflação, com distribuição de renda para a população. Lula foi eleito em 2002 no declínio de um paradigma e reformulação de suas propostas, em bases social-democrata. Dilma foi eleita em 2010 como transferência de voto de Lula, nos altos da avaliação positiva de seu governo em 83%. Bolsonaro foi eleito em 2018 na então falência do PT e do PSDB, como candidato de 3ª via, na ira da população. Lula foi eleito em 2022, como alternativa de retorno no recall de seu governo anterior, devido à falência de Bolsonaro no governo, em sua alta rejeição.

Marketing político, vale a pena? Sim, se ele identifica e rema dentro de uma tendência ou possibilidade, dentro de limites estabelecidos.

Ricardo Guedes -P h.D. em Ciências Políticas pela Universidade de Chicago.
CEO do Instituto de Pesquisas Sensus

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