João Campos e Nikolas Ferreira surgem como renovação da polarização esquerda e direita no Brasil

*Por Bruno Soller

Na mesma medida, mas em campo contrário, Nikolas Ferreira percorreu o Brasil apoiando candidatos da direita em Rio Branco, no Acre, em Palmas, Tocantins, além de ter conseguido ser um bastião para a candidatura de Bruno Engler, em Belo Horizonte, sua terra natal, que alcançou o segundo turno, indo em primeiro lugar. Nos trackings das campanhas belorizontinas, foi percebida a importância do apoio de Nikolas, quando ele apareceu no programa eleitoral pedindo voto para o seu indicado. Oscilações positivas de até 4 pontos percentuais foram sentidas, mostrando a sua força. Em pesquisa RealTime Big Data, contratada pela Record, a imagem positiva de Nikolas supera a do governador Romeu Zema, na cidade, que pretende ser um dos nomes à disposição da direita brasileira, em 2026. Seu recente enfrentamento à ministra Marina Silva, quando a chamou de incompetente, durante reunião da Comissão de Agricultura da Câmara, atingiu quase 10 milhões de brasileiros, apenas pela sua conta do Instagram.

Essa disputa entre dois jovens, um de 28 anos, o deputado mineiro, e outro de 30 anos, o prefeito pernambucano, não parece intencional, mas sim natural, sendo duas renovações importantes de seus espectros políticos. Suas atuações tem ganhado destaque na mídia, não só pelas posições políticas, mas até mesmo por uma certa independência em relação a seus padrinhos políticos. O PT quis porque quis indicar a vice de João Campos, já esperando sua descompatibilização do cargo para disputar o governo pernambucano no próximo pleito, ficando assim por dois anos com o comando da cidade de Recife. Mesmo com toda a pressão e diversas reuniões com Lula, João Campos relutou e indicou alguém de sua extrema confiança para o cargo, seu amigo pessoal, Victor Marques, filiado ao PCdoB. Sua namorada, Tabata Amaral, foi candidata à prefeitura de São Paulo, enfrentando Guilherme Boulos, nome de Lula para o Edifício Matarazzo.

Do mesmo, modo, apesar de sempre reverenciar a atuação de Jair Bolsonaro, Nikolas Ferreira não cedeu à pressão para apoiar Ricardo Nunes, em São Paulo, e apareceu fazendo o “M”, símbolo da campanha de Pablo Marçal durante a corrida do primeiro turno. Foi Nikolas também, responsável por apaziguar os ânimos entre a família Bolsonaro e o empresário, que ficou em terceiro lugar na disputa, mas que já aparece em segundo para a Presidência da República, em pesquisa publicada pela Quaest, em parceria com o banco Genial.

Como certa vez bradou Machado de Assis: “política é ciência prática”, e nesse sentido, Nikolas Ferreira e João Campos estão mostrando a que vieram. Suas ações, seus posicionamentos e a grande ajuda que a idade lhes garante, são pontos a serem observados com muita atenção. Os dois nomes de sucessão do bolsnonarismo e do lulismo podem estar fora das jogadas políticas tradicionais e dos dedaços famosos na história do Brasil. De forma orgânica os dois personagens têm conseguido seus espaços e iniciam um enfrentamento quase que involuntário, mas que o dia a dia pode colocá-los frente a frente em mais batalhas. Sem previsões mirabolantes, já que tudo é muito mutável, mas analisando os fatos e as projeções, não é de se duvidar de que em alguns anos, o campismo e o ferreirismo sejam discutidos como correntes políticas que representem a esquerda e a direita, dando sequência com ajustes a uma polarização que parece ter ganho a sociedade brasileira.

*Bruno Soller é estrategista eleitoral. Especializado em pesquisas de opinião pública, é graduado em Relações Internacionais pela PUC-SP, com especialização em Comunicação Política pela George Washington University. Trabalhou no governo federal, Câmara dos Deputados e Comissão Europeia.

Artigo originalmente escrito para o blog “De Dados em Dados“, do Estadão.
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