Sanders e Trump: Opostos? Nem tanto

Em 2016, Sanders também disputou a indicação para ser o candidato do Partido Democrata à Presidência, mas a vaga acabou ficando com a senadora Hillary Clinton. À época, avaliações indicaram que o eleitorado disposto a votar em Sanders guardava semelhanças com aquele que elegeu Donald Trump – em termos, sobretudo, de perspectiva de ruptura com o sistema político vigente.

“Respectivamente da direita e da esquerda, Trump e Sanders visavam nos seus ataques o consenso neoliberal, ao qual muitos eleitores, sem o nomearem nem o identificarem como tal, se tornaram hostis, particularmente na Grande Recessão”, aponta o jornalista John B. Judis no livro A Explosão do Populismo – Como a Grande Recessão transformou a política nos Estados Unidos e na Europa (Editorial Presença, 2017).

O desempenho de Sanders na disputa pelas eleições primárias em 2016 guarda relação, conforme apontam Cas Mudde e Cristóbal Rovira Kaltwasser, com forte discurso contra o sistema político-hegemônico dos Estados Unidos naquele momento. Para eles, embora o movimento Occupy Wall Street, de 2011, tenha fracassado em termos de produzir uma liderança centralizada, alguns elementos da sua retórica sobreviveram – “como a divisão populista dos 99% versus 1%” na retórica de Sanders, apontam os autores do livro Populismo – uma brevíssima introdução (Gradiva, 2017).

Mudde e Kaltwasser fazem referência, neste caso, a um dos discursos de Sanders em 2016, quando o pré-candidato declarou que “o povo americano não continuará a aceitar uma economia viciada, na qual os americanos comuns trabalham mais horas para receber menos, enquanto quase todo o novo rendimento e riqueza vão para os 1% mais ricos”.

Resta saber como esse tipo de discurso poderá ser incorporado à candidatura de Joe Biden, considerado um nome de centro no Partido Democrata. E, ainda, o grau de apoio dos eleitores órfãos de Sanders à possível reeleição de Trump.

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