34 anos de evangélicos no parlamento

A presença maciça de líderes evangélicos nos parlamentos brasileiros em nível federal, estadual e municipal, é um processo organizado que começou em 1986, há 34 anos. O professor André Ricardo de Souza, do Departamento de Ciências Sociais da UFSCar e especialista em sociologia das religiões, explica que o processo que teve início na Assembleia Constituinte de 1986, quando os evangélicos pentecostais decidiram efetivamente participar da política partidária elegendo seus representantes.

Prof. André Ricardo de Souza

Desde então, com alguns refluxos momentâneos, tal participação só vem aumentando no Congresso Nacional, nas assembleias legislativas e também nas câmaras municipais. As igrejas querem ter seus representantes no Poder Legislativo para atuarem em prol de causas que elas consideram importantes, sejam estas de caráter moral sexual e familiar ou então de interesse institucional específico, como concessões de emissoras de e isenção de tributos”, ressalta Souza.

O especialista avalia que a representação de segmentos religiosos e culturais diversos é algo próprio da democracia e sempre positivo. “Os aspectos negativos envolvem a instrumentalização, por vezes, da fé de pessoas simples para causas não próprias da essência cristã, como a intolerância religiosa, por exemplo, ou então no apoio a candidatos, também a governos, até em esfera federal, com pautas antidemocráticas”, adverte ele.

Ainda com relação a cultos, Souza observa que a representação política das religiões afro-brasileiras é praticamente inexistente e também lembra que há grandes choques de pensamentos nos parlamentos. “ O posicionamento extremado de políticos pentecostais tem como inverso o mesmo forte posicionamento, porém da parte de políticos com grande ativismo laicista, algo que dificulta o diálogo na perspectiva da busca de algum denominador comum. Para que isso aconteça, em prol da real democratização da sociedade, é preciso que não ocorra demonização ou desqualificação a priori do interlocutor, de ambas as partes, cabendo aos candidatos e líderes políticos mais intelectualizados a iniciativa de buscar tal interlocução razoável, tanto quanto possível.”

O professor é contrário à criação de restrições para a eleição de vereadores, como a realização e cursos e uma pré-avaliação dos candidatos. “ Não há como estabelecer parâmetros (que não criminal) que impeçam vereadores e demais tipos de parlamentares de serem eleitos. Isto é próprio da democracia e é positivo. O que se pode fazer, aí sim, é promover e estimular ao máximo a criação de espaços e oportunidades de debate, em que as posições contrárias possam ser expressas e a população então tomar o devido conhecimento delas, não apenas no período eleitoral. Isso pode e deveria ser feito bastante nas emissoras de televisão e rádio, bem como nos meios de internet e também na mídia impressa”, explica.

Segundo ele, os eleitores devem avaliar a política como um todo na hora de eleger prefeitos e vereadores. “ A escolha de vereadores, bem como de outros parlamentares, não pode estar alheia às questões que envolvem a prefeitura, mas também outras instâncias de governo (estadual e até federal), afinal o município está imerso numa realidade política e socioeconômica maior que não poderia ser desconsiderada pelos eleitores na tomada de decisão quanto ao voto. Penso que é preciso saber o alinhamento ou não dos candidatos a vereadores com outros políticos em relação a questões, por exemplo, como o enfrentamento real da pandemia, a preservação, de fato, da Amazônia e a defesa ou não da tributação de grandes lucros e fortunas em prol da perene renda básica para desempregados e trabalhadores informais vulneráreis.”

Fonte: Primeira Página