Por Aurízio Freitas (*)
Realizar análise exige muito do analista, pois para criticar o ambiente é necessário olhar primeiro para si e filtrar noções a priori, preconcepções e paradigmas. Tal exercício doloroso, se não feito com rigor pode colocar o leitor ou o expectador a perder.
A comunicação social e a ciência política, já há muitas décadas, superaram o aspecto puramente “artístico” das análises com o uso de ferramentas para melhor equacionar um assunto em estudo.
Consolidou-se então, desde Gallup (1901-1984), a pesquisa de opinião pública com enfoque quantitavo, qualitativo ou misto, além, por exemplo, da pesquisa etnográfica que interage com o grupo que é objeto do levantamento. Com a internet, o estudo do comportamento deu origem à netnografia, com infinitas possibilidades. O mundo virtual virou um grande laboratório, com rapidez e baixo custo, confrontando e enriquecendo dados e informações de base off-line.
Feito este longo preâmbulo, emendo com a pergunta: por que então, diante de uma infinitude de informações possíveis ou já disponíveis, alguns comunicadores e políticos insistem em ignorar opiniões de grupos relevantes ou mesmo do conjunto da sociedade?
As respostas possíveis não se esgotam nesse espaço. Deixo algumas provocações para debates futuros.
O modelo de “comunicação marqueteira” (anos 80 e 90) “vendeu” para os políticos ser eficaz impor ou formar opiniões através da linguagem persuasiva típica da propaganda. De fato, o modelo funcionou durante tempos, começando a ruir quando a presença dos eleitores nas redes tornou-se significativa (ou “não desprezível”). Falamos de uns 10 anos para cá. A comunicação multilateral e de contraponto, típica da internet, fez ruir tal sistema.
Por outro lado alguns políticos, influenciados pelo ethos marqueteiro, fizeram de seu agir diário tão somente simulação e encenação, pragmaticamente convictos de que isso garantiria a tomada, manutenção e ampliação do poder – o tripé estratégico definido por Maquiavel (1469-1527). Agora, o mesmo pragmatismo fará alguns mudarem de conduta.
Realismo, verdade, profundidade, objetividade e transparência são novas premissas com as quais o universo mainstream tem dificuldade de dialogar.
(*) Aurízio Freitas é consultor político e estrategista eleitoral.
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