Este é a quarta matéria da série especial que relata alguns momentos do Plebiscito sobre a Forma e o Sistema de Governo, que este ano completa 27 anos
No período compreendido entre fevereiro e abril de 1993, a evolução da propaganda de rádio e TV para o plebiscito sobre forma e sistema de governo passou a apresentar contornos mais nítidos. Faltando aproximadamente duas semanas para a realização da consulta (21 de abril), as campanhas presidencialista, parlamentarista e monárquica apresentavam estratégias que oscilavam entre o tom propositivo, o saudosismo, ataques e mesmo a um registro documental sobre a realidade política de outros países.
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Um dos programas disponíveis no YouTube sobre aquele momento histórico revela situação inusitada: na mesma data, o governador Leonel Brizola (PDT-RJ) apareceu simultaneamente no programa do seu partido, defendendo o Presidencialismo, e no da Frente Parlamentarista, com trechos de suas falas sendo utilizados negativamente contra o sistema do qual era defensor.
No programa pedetista, coube a Brizola dizer que, diante do caráter pluralista da frente presidencialista, era necessário esclarecer a identidade do PDT, para acrescentar que “o nosso Presidencialismo não é o mesmo dos demais partidos da frente” e sim um sistema que se propunha a aprofundar a democracia brasileira e não servir às oligarquias. O governador definiu o Presidencialismo a que fazia referência como “socializante, socialista, democrático e de esquerda”.
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Minutos depois, a frente parlamentarista iniciava seu programa defendendo que a população não desse um cheque em branco ao votar pró-Presidencialismo no plebiscito e apontou a aliança adversária como “um saco de gatos”, para em seguida apresentar novamente Brizola – desta vez, com declarações mais apimentadas que aquelas expostas no programa do PDT.
– O nosso Presidencialismo não é o mesmo defendido por esse pessoal todo aí – iniciou o líder pedetista, citando nominalmente o presidente do PMDB, Orestes Quércia (SP), o então governador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA) e o presidenciável Luiz Inácio Lula da Silva (PT) – que mereceu referência particular: “Não é o Presidencialismo do próprio Lula, porque, a rigor, ele é parlamentarista”. A referência se dava ao fato de o líder petista, a exemplo de correligionários como José Genoino, José Dirceu e Aloizio Mercadante, ter se manifestado a favor do Parlamentarismo antes do plebiscito interno que, em março de 1993, por 70% dos votos dos filiados, decidira pelo apoio do partido ao Presidencialismo.
Em formato jornalístico, o programa parlamentarista questionou o eleitor sobre em qual modelo as pessoas estariam votando caso optassem pelo presidencialismo – se nos de Quércia ou de ACM, no de Lula ou no de Brizola bem como no do senador Marco Maciel (PFL-PE), coordenador da frente.
O tom de ataque foi deixado de lado na sequência, quando coube ao ministro da Previdência, Antônio Britto (PMDB-RS), ao governador Luiz Antônio Fleury (PMDB-SP) e ao deputado federal José Serra (PSDB-SP) esclarecer dúvidas dos eleitores sobre as funções do primeiro ministro, dos deputados federais e sobre a execução do programa de governo no parlamentarismo. De forma didática, os três procuraram esclarecer questões colocadas pelos telespectadores e o tom propositivo foi mais nítido.
No entanto, era mesmo a controversa atuação de Brizola na campanha presidencialista que roubava a cena naquele momento. Responsável pelo marketing da campanha presidencialista, o publicitário Chico Santa Rita revela, no livro Batalhas Eleitorais (Geração Editorial, 2014), que o programa avulso do PDT na campanha presidencialista, além de retirar 1,5 minuto diário dentre os dez disponíveis para a campanha de rádio e TV, chegava a confundir eleitores sobre o que estava em discussão. – Não sou monarquia, nem parlamentarismo, nem Brizola. Sou mesmo é presidencialista! – teria dito um popular ao âncora da campanha presidencialista, o ator Milton Gonçalves, em gravações para o programa, conforme relato de Santa Rita.
Assista ao vídeo do programa de TV: