Técnicas de oratória para novos candidatos

A primeira candidatura é um grande desafio, sobretudo se o novo candidato não convive  no meio político, não possui um apoiador experiente que lhe sirva também como mentor ou não faça parte de um grupo político organizado.

Nesta condição o candidato deve atentar muito mais para a sua preparação pessoal, sobretudo quando busca informação em fontes de fora do universo da política. Muitos guias e manuais de oratória podem ser úteis para quem se inicia na política, desde que o leitor tenha o cuidado de avaliar as técnicas expostas se aplicam ao contexto da campanha eleitoral.

Reunimos, adaptamos e ampliamos, a seguir, algumas orientações de fontes diversas visando aplica-las às eleições. Não se trata de uma “receita de bolo”, mas sobretudo uma provocação ao leitor, motivando-o o leitor a refletir e pesquisar ainda mais sobre o tema.

1. Perdendo o medo de falar em público

O medo de falar em público tem relação com a falta de preparo. Encarar uma situação de exposição de fala sem ter o mínimo embasamento é muito difícil. Por isso, é preciso dedicar um tempo na elaboração do seu discurso, inclusive treinando cada uma das falas. Esta é a melhor maneira de ganhar confiança para falar. Via de regra, apenas grandes líderes políticos, com muita estrada, podem se dar ao luxo de “falar de improviso”.

Não há mistério: conhecimento e prática são os alicerces para perder o medo e o nervosismo. Em artigo para a Harvard Business Review, o professor de Psicologia e Marketing do Centennial Annabel Irion Worsham na University of Texas, Art Markman, afirma que uma das dicas de ouro para adquirir a habilidade de falar em público é praticar (vale a pena ler aqui).

Bons exemplos de como se preparar é treinar em frente ao espelho, frente a duas ou três pessoas ou, ainda, gravar um vídeo para corrigir falhas.

Além de preparação é preciso evitar atrasos (chegar pelo menos 30 minutos antes como regra), encarar com normalidade eventuais problemas técnicos e buscar se familiarizar antes com o espaço onde você falará para os eleitores. Não lidar de forma adequada com esses fatores irá contribuir para aumentar os níveis de estresse.

2. Como organizar o pensamento para potencializar o seu discurso

É possível transmitir uma mensagem interessante e eficiente sem antes organizar o nosso próprio raciocínio? Não.

Por mais simples que seja sua fala, montar um roteiro com começo, meio e fim permite que você organize suas ideias e tenha confiança para discursar com propriedade. Isso irá reduzir o nível de ansiedade e medo, porque tememos aquilo que não conhecemos.

Além disso, saber para quem você falará deve ser um dos primeiros passos na hora de montar sua apresentação. Ao se preparar para falar para cada público específico, comece definindo o tema central que fará parte da sua mensagem. Uma conversa com um grupo de profissionais de determinada categoria, naturalmente deve ter conteúdo diferente de uma conversa com líderes de bairros de uma região da cidade.

Independente do público de eleitores para o qual se fale é preciso conhecimento prévio sobre o que interessa a cada público, os problemas que desejam ver resolvidos e suas expectativas de uma maneira geral.

Ao definir os assuntos a serem abordados, divida-os em itens principais e itens secundários, garantindo que exista uma relação lógica entre eles. O próximo passo é definir palavras-chave para esses tópicos e recorrer a elas sempre que for necessário, para garantir um melhor entendimento da platéia.

3. Como contar uma boa história

Contar uma boa história talvez seja a técnica de oratória mais citada hoje em dia, embora seja uma técnica muito antiga (leia mais sobre storytelling aqui). Na prática, contar uma boa história significa conseguir criar narrativas interessantes sobre um determinado assunto, exemplificando situações que aconteceram com você ou com conhecidos para ilustrar o seu discurso.

Essa técnica básica pode ser aplicada em vários contextos, desde plateias seletas, até o público de grandes eventos e também em falas nas rede sociais. Contar histórias usando metáforas, exemplos e pequenas narrativas, além de gerar empatia, facilita a compreensão da mensagem , pois agrega um aspecto prático à sua apresentação. Grandes líderes sempre têm um boa história “na manga” para contar em cada situação, isso também vale para a política.

O novo candidato pode começar contando a sua própria história (assunto em que terá maior segurança) e ir fazendo conexões com o público, até avançar para as razões que lhe levaram a entrar na política e suas causas e propostas.

4. Como dominar a linguagem corporal e ser mais expressivo

Para se comunicar com os eleitores de maneira eficiente, é essencial lembrar que não apenas as palavras, mas tudo o que fazemos transmite uma mensagem. A comunicação não-verbal é parte essencial de todo o processo de comunicação. As dimensões gestual, corpórea e visual são partes ativas do diálogo com o seu público.

Diante disso, todo candidato deve procurar dominar bem a linguagem não-verbal. O que isso significa? Gesticular de forma consciente, saber como se locomover enquanto fala, entender a importância das expressões faciais e da postura. Para transmitir uma boa imagem, não basta um conteúdo excelente, é preciso saber comunicá-lo também através do que o seu corpo expressa. Por exemplo, ao tratar de propostas e compromissos de campanha uma gesticulação vibrante selará a adesão do público.

Além de um conteúdo interessante e de uma boa oratória, o nosso corpo diz muito sobre a maneira como nos posicionamos. Dependendo daquilo que pretendemos passar para a plateia, adotar uma linguagem corporal correta pode fazer toda a diferença para alcançar os seus objetivos. A determinação e certeza da vitória eleitoral devem ser  comunicadas em cada ato.

5. Saber usar a voz e os silêncios

A voz é uma ferramenta e, portanto, é necessário saber usá-la da melhor forma. Em situações de exposição de fala, encontrar um ritmo confortável (tanto para o orador quanto para a audiência) é importante. Variar o tom de voz é outra ação que deve ser feita, especialmente nos momentos centrais da sua fala.

Quanto ao uso da voz, os silêncios também comunicam algo. Utilizar pausas ativas é uma forma de reter a atenção do público, aumentar a emotividade e, ainda, ajudar a organizar o seu próprio raciocínio. Em algumas situações, o silêncio comunica muito mais do que aquilo que é falado.

Fazer perguntas e silenciar esperando a resposta dos eleitores pode ser uma boa tática para envolvê-los.

6. Como persuadir e transmitir liderança

A persuasão pode ser definida como o poder de convencimento. Saber convencer alguém sobre algo é uma competência útil em diversas situações, tanto no âmbito pessoal quanto no âmbito profissional.

Para persuadir, conseguir transmitir seus argumentos de forma convincente é indispensável. Nesse sentido, escutar o outro – e, a partir disso, entender o que ele pensa – também é importante para criar as melhores estratégias.

Uma forma importante de persuadir é despertar emoções nos seus ouvintes. Qualquer fala é capaz de sensibilizar a audiência e é inteligente usar isso a seu favor durante um discurso. Temas emocionais podem ser o ponto alto de seu discurso, especialmente se você citar algum acontecimento que tenha a ver com os eleitores para quem você fala. Isso também deve ser pesquisado e preparado com antecedência. Se a pauta é a qualidade dos serviços públicos, pode ser citado algum episódio em que alguém foi prejudicado por erro de atendimento, envolvendo a plateia com a situação e então afirmando que coisas como essa não poderão mais se repetir.

Por fim, o cenário político atual é de busca por líderes. Líder é alguém que consegue influenciar outras pessoas por sua forma de ser e de agir.

Um líder conquista o respeito dos demais não apenas pela posição que ocupa, mas pela imagem que transmite. Nesse quesito, ser um bom comunicador é uma das características de todo líder político, já que o diálogo é parte central do seu cotidiano.

(Com informações do The Speaker, do Hotmart, do Blog da Fia/USP e do e-book Sou candidato, e agora?)