EUA: o uso das pesquisas na eleição presidencial

As pesquisas eleitorais quantitativas (com questionário padronizado e aplicado em uma amostra representativa do eleitorado) têm sido um fundamental instrumento de campanha nas democracias. Também a opinião pública tem interesse em acompanhar a performance dos candidatos, e, por isso, os meios de comunicação publicam com muita frequência pesquisas eleitorais.

Nos EUA, as pesquisas eleitorais são produzidas em uma quantidade rara de ser ver em outras democracias. São tantos os institutos publicando seus estudos, que surgiram sites especializados na análise das pesquisas divulgadas, o que as obriga a calcularem uma média geral dos resultados, pois há muita discrepância nos resultados de tantos institutos. Um site que é referência nesse acompanhamento é o Real Clear Politics.

O site não faz simplesmente uma média geral das pesquisas, pois ele pondera os resultados de cada instituto pelo seu desempenho histórico. Por exemplo, as pesquisas de um instituto – que tem um histórico de resultados que divergem significativamente do resultado da eleição – sofrerão uma ponderação negativa nos resultados, enquanto  outro – que tem um histórico de resultados mais aproximado do resultado da eleição – terá uma ponderação maior.

A ideia é sobrevalorizar as pesquisas de institutos que têm um bom histórico e subvalorizar as pesquisas de institutos que têm um histórico ruim ao se fazer a média geral das pesquisas.

Em 2016, o site Real Clear Politics publicou sua média geral das pesquisas feitas entre os dias 1º e 7 de novembro, obtendo este resultado: Hillary Clinton com 46,8% e Donald Trump com 43,6%. O voto popular na eleição de 2016 foi: Hilary com 48,2% e Trump com 46,1%. A diferença da média geral de pesquisas para o resultado de Hilary foi de 1,4 ponto percentual a menos, enquanto a diferença da média geral para o resultado de Trump foi de 2,5 pontos percentuais a menos. A maioria das pesquisas trabalhou com margens de erro de 3 pontos percentuais, e, nesse sentido, o resultado da média geral foi confirmado pelo resultado eleitoral.

Mas as pesquisas eleitorais nos EUA sofrem muitas críticas porque elas têm revelado uma baixa capacidade preditiva a poucos meses da eleição. Nas eleições de 2016, no mês de junho, as médias gerais mostraram Hilary variando de 43% a 46%, enquanto as médias de Trump variaram de 38% a 42%. Se na eleição a diferença pró-Hilary foi de 2,1 pontos percentuais, no mês de junho a diferença pró-Hilary variou de 1,5 a 6,8 pontos percentuais. Isso acontece por causa de três características importantes das pesquisas presidenciais nos EUA.

A primeira: a aplicação dos questionários é feita por telefone, o que fragiliza a representatividade da amostra, pois há muita recusa, e isso pode, se não houver um delicado trabalho de correção amostral, gerar distorção no resultado.

A segunda: o voto não é obrigatório nos EUA, e as pesquisas não são feitas sobre toda a população em condições de votar, mas apenas nos eleitores que respondem que estão registrados e/ou que pretendem votar. Essa característica gera muita incerteza quanto ao grau de confiabilidade do resultado produzido.

A terceira: dois partidos (Republicano e Democrata) dominam as eleições e têm um eleitor cativo, forçando os institutos a ponderarem sua amostra de acordo com a distribuição estimada desses eleitores e que vão votar. Isso pode gerar uma baixa representatividade do eleitorado de um partido em favor de outro, afetando a confiabilidade da pesquisa.

Neste mês de junho a candidatura de Joe Biden tem mostrado uma boa performance nas pesquisas publicadas, e sua diferença para Trump está variando de 6,8 a 9,5 pontos percentuais a mais na média geral das pesquisas. Mas, como já vimos, esse resultado não permite predizer a vitória de Biden, até porque a campanha ainda está no começo.

(Texto do Observatório das Eleições 2020 nos EUA, coordenado por Adriano Cerqueira)

Fonte: O Tempo

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