Pesquisa Travessia Dezembro/2021

Pesquisa nacional realizada pelo Instituto Travessia nos dias 16 e 17 de dezembro, com a coordenação de Renato Dorgan, projeta um cenário eleitoral para 2022 bastante agitado

Às vésperas de cada eleição presidencial, muitos analistas políticos costumam classificar a eleição vindoura com chavões clássicos como “a mais concorrida dos últimos tempos”, “uma eleição diferente de todas as outras”, “uma eleição imprevisível” etc. Em que chavão seria possível enquadrar 2022?

Em 2022 teremos o retorno do ex-presidente Lula da Silva como candidato após uma reviravolta judicial, a candidatura inédita de um ex-magistrado, Sérgio Moro, e a candidatura de reeleição do mais polêmico de todos os presidentes do país, Jair Bolsonaro. A economia do país sofreu duro golpe em 2020 e 2021 e é incerta a sua recuperação em 2022. Judiciário e Legislativo ensaiaram um conflito em torno da Execução do Orçamento e o cidadão comum assiste a tudo cético e ainda sem maiores apetites eleitorais. Dessa forma, é possível que a complexidade de 2022 supere os chavões.

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Para jogar algumas luzes no debate sobre 2022, o Eleições Brasil conversou com o estrategista e consultor político Renato Dorgan, Diretor do Instituto Travessia. O instituto realizou nos dias 16 e 17 de dezembro uma pesquisa nacional ouvindo 2.000 pessoas de todas as regiões do país. O levantamento tem margem de erro de 2% e intervalo de confiança de 95%.

Perguntados de forma espontânea (sem citar opções) sobre em quem votariam para presidente em 2022, Lula foi citado por 27% dos entrevistados, seguido de Bolsonaro com 18%, Sérgio Moro com 4%, Ciro Gomes com 2% e João Dória com 1%. Demais pré-candidatos não pontuaram, 9% afirmaram votar branco ou nulo e 39% disseram não saber em quem vão votar.

Já na intenção de voto estimulada (citando opções) o resultado foi o seguinte: Lula 40%, Bolsonaro 23%, Sérgio Moro 11%, Ciro Gomes 4%, João Dória 2%. Cabo Daciolo, Henrique Mandeta e Simone Tebet foram citados por 1% dos entrevistados. Rodrigo Pacheco, Alessandro Vieira e Luís Felipe D’Avila não pontuaram. Brancos e Nulos somaram 9%, Não sabem em quem votar somaram 8%.

Para Renato Dorgan, considerando os resultados de intenção de votos espontânea e estimulada é possível afirmar que “Lula está na frente, é indiscutível, mas sua liderança se dá muito em virtude do problema econômico do Brasil e principalmente nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, onde o conhecimento dos candidatos é muito menor e a maior parte das pessoas só conhecem a polarização Lula x Bolsonaro”.  Mas é sobretudo pela comparação do momento econômico atual com o passado que Lula torna-se a preferência de muitos dos entrevistados. “Lula remete a uma época em que a vida dos mais pobres estava um pouco melhor”, analisa Dorgan.

Já no quesito aprovação do governo, apenas 26% dos entrevistados pelo Instituto Travessia afirmaram aprovar o modo como Bolsonaro trabalha, enquanto que 70% dos entrevistados afirmam desaprovar.

Para acessar o relatório completo da pesquisa clique aqui.

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“2022 NÃO SÃO FAVAS CONTADAS”: ENTREVISTA COM RENATO DORGAN

ELEIÇÕES BRASIL – Em sua opinião o que explica os números de Lula, que se mantém na liderança da disputa presidencial já há alguns meses?

RENATO DORGAN – Não começou a discussão ainda sobre Lula, hoje ainda é tudo pautado em antibolsonaro. Na medida em que se começar a discutir histórico, o que aconteceu com o Lula até a prisão, eu acho que pode ter uma mudança. Primeiro por conta do Auxílio-Brasil entre os mais pobres, o Bolsonaro pode subir um pouco. Segundo, quando se começar a contar a história de Lula, Moro pode subir também. Moro tira voto de Bolsonaro na classe média, desidratando Bolsonaro nas regiões Sul e Sudeste.  Por esses fatores eu não acho que a eleição esteja definida, 2022 não são favas contadas.

EB – O ex-presidente Lula apresenta uma intenção de voto de 40% na pesquisa Travessia de dezembro/2021. Seria possível projetar quantos desses 40% são cristalizados e quantos podem mudar de posição ao longo da campanha? Lula já está com vaga garantida no 2º turno?

RD – A vaga de Lula no 2º turno é muito provável, principalmente pela carestia, a inflação, os preços da energia, do gás, da comida que possivelmente não vão mudar muito e Lula é a associação mais direta com essa melhora. Lula aprece com 40% na estimulada e em torno de 27% na espontânea, essa diferença entre os dois resultados divide também o seu eleitorado em duas fatias: a do eleitor cativo, com cerca de 27%, e a do eleitorado antibolsonaro, com cerca de 13%. É importante ressaltar que os mais pobres podem ser impactados pelo Auxílio Brasil em 2022 e retirar votos de Lula. Lula também pode perder votos para Moro quando começar a sofrer ataques. Eu não tenho essa mesma impressão como parte da imprensa e alguns analistas de que “já são favas contadas”, que a eleição se decidirá no 1º turno… Penso que as análises sobre a eleição 2022 ainda estão muito afetadas pelo antibolsonarismo e pela “fumaça” do problema econômico, mas a história contra o Lula vai ser contada pelo Bolsonaro, pelo Moro e pelos outros candidatos.

EB – O governo Bolsonaro tem índices de desaprovação históricos, poucas vezes se viu algo assim. Mas ao mesmo tempo tem um eleitorado cativo em torno de 25%, segundo a pesquisa Travessia de dezembro/2021. Você identifica um voto “ideológico” nesse resultado de intenção de votos de Bolsonaro?

RD – Eu acho que ali tem um voto ideológico de 15% mais ou menos, praticamente o resultado da espontânea. Bolsonaro tem uma média de 1/4 do eleitorado, uma intenção de votos em torno de 25%. Portanto, os 10% restantes são identificados com o antipetismo, com o receio de Lula voltar ao poder. É um eleitor de só vê a polarização, não conhecem ou não gostam dos candidatos de terceira via.  É nessa segunda fatia do eleitorado de Bolsonaro, de cerca de  10%, que Moro pode desidratar Bolsonaro. Os outros são de eleitores que se identificam com a agenda de costumes e que têm fidelidade a Bolsonaro.

EB – Os outros candidatos de terceira via são viáveis?

RD – À exceção de Sérgio Moro, eu não vejo os outros candidatos de terceira via como viáveis. Moro é quem mais pode tirar votos de Bolsonaro e de Lula. Dos dois outros principais candidatos que disputam a terceira via, Ciro está embaixo do guarda chuva do Lula, com tendência a perder votos para seu rival nas esquerdas; já João Dória tem uma rejeição muito grande no estado de origem dele, São Paulo, fator que prejudica sua alavancagem.

EB – Os candidatos de terceira via, fora Sérgio Moro, somam cerca de 10% na pesquisa Travessia de dezembro/2021 (Ciro, Doria, Mandetta, Tebet, Pacheco, Alessandro Vieira e D’Avila). Em sua avaliação, uma eventual unificação dessas candidaturas em torno de Moro traria resultado em números para o Ex-juiz, ou os votos se dispersaram na polarização Lula-Bolsonaro ou em brancos e nulos?

RD – Eu acho que em um cenário de desistências principalmente os votos do Dória, do Mandetta e demais candidatos de terceira via, com exceção do Ciro Gomes, iriam para o Moro sim. Sobre composição de vice há candidatos mais interessantes para Moro, por exemplo, como Simone Tebet e Luiz Henrique Mandetta, que tem baixa rejeição. Sobre o Dória vice de Moro, ele poderia puxar uma rejeição para o Moro, algo perigoso, a rejeição do Dória é muito alta. Uma unificação dos candidatos da terceira via em torno de Moro não afetaria imediatamente o cenário em termos de números, mas é claro que o apoio do União Brasil e do MDB, que são partidos grandes, com capilaridade nacional e com alguns players com baixa rejeição, teria sim grande peso ao longo da disputa.

Para acessar o relatório completo da pesquisa clique aqui.