Comunicação política em tempos de pandemia

O consultor político espanhol Antoni Gutiérrez-Rubí elenca algumas dicas para enfrentar este momento sem precedentes em que vivemos:

1. Tempo: Vivemos superexpostos à informação, mas com atenção limitada e frágil. A informação cresce em velocidade, quantidade, acessibilidade e formatos. Mas o que não “cresce” é o tempo. Um segundo ainda é um segundo. Um minuto, uma hora, um dia … o mesmo. A tensão entre o bem abundante (informação) e o bem escasso (tempo) é uma das grandes equações. Portanto, a luta dos algoritmos por nossa atenção e nossa paciência cognitiva é muito limitada. Além disso, é a árdua luta dos governos para que suas informações e mensagens alcancem o maior número possível de cidadãos. Você precisa controlar e compreender os horários, como faz no horário nobre TV: A que horas os cidadãos trabalham on-line? A que horas você gosta de lazer? O horário é mais longo e a comunicação como governo pode estar mais presente do que nunca (sem ir aos extremos do primeiro ministro italiano, que veio convocar uma conferência de imprensa às duas da manhã).

2. Simplicidade: A mesma atenção indica que, se um governo deseja ter sucesso comunicativo, as exposições, discursos ou debates longos e longos terminaram. Se alguém quiser descobrir mais, será informado, mas a simplicidade e a simplicidade devem ser a prioridade. Não se trata de falar com palavras menos ou mais simples, mas sim que essas palavras gerem memorização em um mundo de incerteza e descrédito político. Cada vez mais, o valor das palavras não é sua simples pronúncia, mas seu significado, sua intenção. Sentimos que existem líderes que conhecem o vocabulário, mas ignoram seu significado. As palavras que se movem estão de volta, o tom, o timbre, o registro, a cor da voz. Para liderar, você terá que decidir, fazer, dizer e sentir. Construa confiança e certeza através de palavras e informações.

3. O celular como ferramenta básica: Obviamente, no contexto atual, as visitas e presenças físicas são bastante reduzidas. Como governo, você não pode comunicar esses atos e visitas, mas pode executar várias ações para continuar se relacionando com as pessoas. É por isso que você precisa ligar, ligar e ligar. Em qualquer governo, será necessária uma lista exaustiva de possíveis contatos, que fornecerá, em um banco de dados, as chamadas feitas e as chamadas potenciais a serem feitas. É a melhor maneira de ter uma presença e mostrar força, segurança e liderança. Você precisa de uma equipe preparada para localizar pessoas e entidades para chamar e gerar bons argumentos. O aumento do relacionamento, em tempos de “telepolítica”, é básico e é o único caminho. Nada, exceto um relacionamento pessoal, pode competir com uma ligação telefônica.

4. Maior tipologia de conteúdo: Vivemos em um mundo cada vez mais visual. Nas redes, se o conteúdo é rei, o formato audiovisual é rei do conteúdo. Mas não é só. Trata-se de informar e se comunicar com diferentes formatos: vídeos com discursos musicais, transmissões ao vivo e dados, agradecimentos constantes, diálogos, mensagens para pessoas específicas, reflexões compartilhadas nas redes, respostas a perguntas on-line dos cidadãos … Nem todos os conteúdos informam, você também precisa variar os tipos de conteúdo. Isso também deve gerar visibilidade na mídia, o que, nesses tempos de hiperconexão, se torna um fator cada vez mais importante. Estar na mídia com suas próprias mensagens também significa estar em redes.

5. As reuniões virtuais se tornaram constantes, através de diferentes ferramentas e canais, do Zoom ao Skype. Nossos líderes devem mostrar como eles fazem isso e com quem; Eles devem mostrar que têm um cronograma apertado, que trabalham, que estão conectados e que fazem a mesma coisa que seus cidadãos. Um dos primeiros políticos a usar a plataforma Zoom foi Boris Johnson, primeiro ministro do Reino Unido, que tornou visível o que foi o primeiro encontro de videoconferência na história do país nas redes. Após essa imagem, muitas outras se juntaram em todas as partes do mundo, como a Argentina, onde é possível ver equipes do governo que se reúnem periodicamente, líderes participando da mídia ou perguntas de cidadãos, entre muitos outros propósitos.

6. Entenda as mensagens: Cada mensagem que o governo lança deve ser coordenada e acordada, pois qualquer anúncio imprevisto pode causar uma grande crise de comunicação, pois todo o governo não é avisado, com a possibilidade de preparar um argumento comum. É um fato importante, porque qualquer erro será severamente criticado nas redes e na mídia e, quando for negado ou retificado, as horas terão passado e o descrédito do governo terá aumentado ainda mais. Retificações constantes, erros e negações geram uma percepção do caos.

7. Aumento da polarização nas redes: Obviamente, há menos protestos nas ruas, mas mais organização on-line, nas redes, com conteúdo que também chega à mídia, mas, acima de tudo, quem navega na rede. Governos que anteriormente poderiam garantir que, em alguns meios de comunicação, certos relatos de protestos ocorridos nas ruas não fossem divulgados, agora não podem se esconder. Se somarmos a isso um grande aumento na polarização, já vemos lutas constantes nas redes sociais para alcançar o tópico de tendência mais insultuoso, para visibilidade instantânea ou por algumas horas de uma mensagem partidária. Não faz muito bem, especialmente no Twitter, que se tornou um atoleiro político, mas continua sendo, por enquanto, um constante campo de batalha.

8. Uma nova liderança: ser líder em tempos de crise implica ter empatia com a situação pela qual a sociedade deve viver, entender os sentimentos e emoções das pessoas e, assim, poder transmitir as mensagens mais adequadas em todos os momentos. A proximidade é apreciada e confortos. Não é necessário ter todas as respostas para gerar certezas. Vamos precisar de faróis inspiradores capazes de exercer sua autoridade, não apenas pela força de seus poderes. Dirigir é iluminar, guiar e fazer sentido. O confinamento global questiona os atributos de distância e proximidade física e digital. Perto e longe não é mais apenas um conceito físico. Palavras importam. E os atributos mudam.

9. A busca de consenso: Um líder em tempos de crise também é aquele que busca consenso, fala com a oposição e chega a um acordo, ou que avança o que será feito com outros líderes em seu país. Você tem que conversar com todos e comunicá-lo. Nem mesmo uma maioria sólida, muito menos uma maioria complicada, por mais legítima que seja, dá poder suficiente para enfrentar uma crise dessa natureza. O governo tem muitas fontes, mas precisará de estratégias amplas de colaboração e co-governo e co-decisão para avançar, concordar e aceitar contribuições de outros. Na percepção do cidadão, você precisa pensar mais em colaborar do que em competir eleitoralmente.

10. Compreender e monitorar: A política (líderes, partidos, instituições ou sistemas) enfrenta um grande desafio de entendimento. Medir emoções será mais relevante do que apenas medir opiniões. Estudar os comportamentos dará mais informações. Analisar relacionamentos e reações associadas será mais estratégico. Vamos precisar de outro olhar, outra leitura da sociedade nervosa. A política deve ser moralmente rearranjada para entender, abraçar e canalizar um estado mental emocional altamente coletivo. Ou você entende o coração das pessoas ou outras forças entenderão melhor suas entranhas.

(Fonte: Site Gutiérrez-Rubí )