“Evergrande: um novo Subprime?”, por Magno Xavier

Por Magno Xavier (*)

Não, pelo menos até o momento!

Na crise americana do subprime em 2008, que culminou com a quebra do Banco de Investimento Lehman Brothers, não se tinha nenhum horizonte, nenhum panorama para se usar como referência na compreensão do que realmente estava acontecendo e muito menos o nível de contágio para o sistema financeiro não só dos EUA, mas de todo o mundo. Ficou comprovado na sequencia que se tinha ali um mercado totalmente desregulado, onde foram arquitetados produtos financeiros lastreados em “créditos podres”, ou seja, nas hipotecas subprime que nunca seriam pagas quando os preços dos imóveis entraram em trajetória de queda por volta do ano de 2006. Foi como se a “mão invisível” do sistema capitalista nos tivesse abandonado naquele momento, e de fato nos abandonou mesmo.

Pouco mais de uma década, pra ser mais exato 13 anos depois, eis que surge um novo indício de crise financeira global, novamente iniciada no setor imobiliário. Mas desta vez existe um diferencial importante, qual seja? Estar localizada em um país comunista, a China.

Neste caso, também precisamos voltar um pouco no tempo para entender melhor o problema da Evergrande e para onde isso poderá nos levar.

A China, que vem de um crescimento médio de 9,86% nas décadas de 1980/90. Desemboca no século XXI com a meta de se tornar o centro de gravidade da Economia mundial. Isso se concretiza já em 2001 com a sua entrada na Organização Mundial do Comércio (OMC). A partir de então o gigante asiático inicia um inédito processo de êxodo rural e consequente industrialização das Cidades. Nestas últimas duas décadas a segunda economia do mundo foi a principal demandante de commodities metálicas, minerais e alimentares.

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Outro ponto importante nessa mudança de paradigma foi justamente o exército de mão-de-obra barata concentrada nestes agora polos de industrialização. Com isso, a Economia Comunista segurou um crescimento médio de 10,36% durante toda a primeira década deste século.

Isto mudou toda a dinâmica do comércio internacional favorecendo os BRICS (grupo de países emergentes) em detrimento dos países ricos. O deslocamento de plantas fabris do mundo todo para lá em busca de mão-de-obra barata inundou o planeta com produtos de baixo custo, o que ajudou a frear a inflação mundial, baratear o crédito e valorizar as commodities nos países exportadores como o Brasil.

Ocorre que este modelo chinês está se esgotando e dois fatores são determinantes para isso, o clima e a pandemia. Por um lado, as pressões pela redução das emissões de carbono vêm crescendo com a proximidade da COP26 marcada para novembro/2021, a ponto do Governo chinês anunciar em seu 14º Plano Quinquenal (2021-2025) investimento mais robusto em tecnologias disruptivas e energia limpa e desinvestimento nas commodities metálicas e minerais. Por outro lado, a pandemia da Covid-19 vem impondo um ônus econômico muito grande às nações, desencadeando um processo inflacionário e o empobrecimento das classes mais baixa da população mundial, principalmente nos países pobres e/ou emergentes. Somadas estas duas variáveis, o reflexo vem na redução média do PIB para meros 6,86% nesta última década.

Assim chegamos ao caso Evergrande. O mercado imobiliário historicamente baseia seu crescimento em uma elevada alavancagem financeira, ou seja, os investimentos são muito elevados no curto prazo, porém as receitas são diluídas no longo prazo, o que torna o setor muito vulnerável a crises, sejam elas climáticas, de saúde pública, políticas etc.

Esta incorporadora chinesa, a segunda maior do país, que tem um passivo de US$ 309 bilhões, vê seus clientes sem condições de honrar suas dívidas e ao mesmo tempo não consegue prospectar novos clientes para reduzir seus estoques pelas condições econômicas apontadas acima.

Neste ponto é onde se dá o “pulo do gato”. Aproximadamente 80% deste passivo está concentrado em bancos estatais chineses, o restante é proveniente de investidores internacionais. A Evergrande já deu um primeiro calote nestes players externos de US$ 83,5 milhões em juros. Mas o contágio por todo o sistema financeiro chinês neste momento é pouco provável uma vez que o Governo Comunista deve atuar fortemente para socorrer os credores estatais da Empresa e controlar ainda mais os fluxos de capitais do país. Prova disso é a recente decisão do Banco do Povo da China de injetar US$ 15,5 bilhões no sistema financeiro estatal e proibir todas as transações com criptomoedas desvalorizando-as pelo mundo. O termômetro do mercado será o pagamento (ou não) de outro título no valor aproximado de US$ 35,9 milhões que vence nesta quinta-feira.

De todo modo à desaceleração da China impacta negativamente as exportações de commodities metálicas e minerais do Brasil, principalmente o minério de ferro.
Somem-se a este ambiente externo bastante desafiador, os nossos problemas internos de proximidade das eleições, problemas orçamentários, inflação, aumento de impostos, lentidão na agenda de reformas, etc. Isso tudo nos leva a um cenário de crescimento muito desafiador não apenas para 2021, mas principalmente para 2022.

(*) Magno Xavier é economista e especialista em gerenciamento de empresas pela UERN e cursa MBA/EAD em Marketing Político pela UnyLeya.

E-mail: [email protected] – Instagram: @magnoxavier_economista – Twitter: @MagnoXavier2

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