A nona e penúltima postagem do especial do Plebiscito sobre a forma e o sistema de governo falará sobre o debate televisivo ocorrido entre os representantes das três Frentes em disputa.
Os últimos momentos do plebiscito de 1993 sobre forma e sistema de governo reservaram maior emoção para um debate realizado pela Rede Bandeirantes na madrugada de 20 de abril de 1993, a um dia da realização da consulta. Mediado pelo jornalista Chico Pinheiro, o programa, com uma hora de duração, contou com o senador Mário Covas (PSDB-SP), o governador do Paraná, Roberto Requião (PMDB), e o deputado federal Cunha Bueno (PDS-SP).
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Já na explicação sobre a quem deveria caber a defesa de cada tese, Chico Pinheiro mostrou o inusitado da situação: Covas e Requião defendiam a República e Cunha Bueno, a Monarquia, como forma de governo, enquanto, na discussão sobre sistema de governo, Covas e Cunha Bueno eram parlamentaristas, ficando Requião com a defesa do presidencialismo.
“Sou maioria na mesa”, animou-se um inicialmente bem-humorado Mário Covas, aludindo à convergência com Requião (pró-República) e com Cunha Bueno (pelo Parlamentarismo). O tom dos demais debatedores, no entanto, fugiu ao roteiro sugerido pelo icônico político paulista, que se saíra bem na eleição presidencial de 1989, quando ocupou um destacado quarto lugar.
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“Estou em minoria absoluta”, opinou Requião, para na sequência ironizar: “O parlamentarismo do Covas quer impor limites à Monarquia do Cunha Bueno. Discutimos aqui uma volta ao passado: Parlamentarismo é regressão e Monarquia é regressão absoluta”. Cunha Bueno completava a troca de farpas questionando sobre qual modelo de Presidencialismo era defendido pelo governador do Paraná: se o do rival de Requião no PMDB, Orestes Quércia, de Lula ou de Leonel Brizola.
Seguiu-se um debate com acirrados momentos protagonizados sobretudo por Requião e Covas, ambos considerados de temperamento difícil. Tratava-se praticamente de um desdobramento da campanha em que a discussão sobre sistema de governo deixara em segundo plano o debate sobre forma de governo.
O programa refletia também a identidade dos seus protagonistas com as causas que defendiam: Covas exercera até então mandatos parlamentares na maior parte de sua vida pública (com exceção do de prefeito de São Paulo, na década de 80), enquanto Requião governava o Paraná pela primeira vez, após ter sido prefeito de Curitiba. A visão de um senador pró-parlamentarismo e de um governador a favor do Presidencialismo eram, portanto, desdobramentos naturais. Restava a Cunha Bueno pontuar ironicamente diversas intervenções tanto de um quanto de outro, enquanto ganhava dimensão nacional, deixando de ser visto como mero correligionário do prefeito de São Paulo, Paulo Maluf.
Em seus melhores momentos, o programa foi mais esclarecedor que a maior parte da propaganda de rádio e TV das frentes parlamentarista, presidencialista e monárquica. Se Covas aludia às vantagens de um sistema de governo capaz de garantir a execução de um programa de governo – caso contrário, havendo a possibilidade de dissolução do Congresso Nacional –, Requião alertava para a falta de visão nacional dos congressistas para cumprir funções que considerava mais adequadas a um presidente. Já Cunha Bueno exaltava países que teriam prosperado em decorrência de suas Monarquias, com críticas ácidas à República (que mereceu defesas mais contundentes de Requião que de Covas).
No entanto, o clima dos programas televisivos das frentes contagiou os debatedores e as farpas se intensificaram em dois dos três blocos do programa: Requião apontou como “estelionato” o programa da frente parlamentarista registrado em cartório, gerando reações exaltadas de Covas.
O deputado pelo PDS insistiu por diversas vezes para que o governador paranaense explicasse qual modelo de Presidencialismo se defendia, para concluir que deveria ser o de Brizola – referência direta ao programa diário do PDT a favor do Presidencialismo, que se distinguia da programação oficial da frente presidencialista. A certa altura, quando acuado pelos demais debatedores, Requião se saiu com uma comparação que irritou igualmente a ambos: “Estou debatendo com iguais. A diferença é que o rei do Cunha Bueno tem pedigree e o do Covas, não”.
Nas considerações finais, o clima foi mais ameno, com trocas recíprocas de elogios entre os debatedores.
Assista o vídeo do debate abaixo: