Liderança e posicionamento no combate ao coronavírus

Observando os diversos estilos de atuação de líderes mundiais durante os dias iniciais da pandemia de COVID-19 no mês de março, o consultor político Xavier Peytibi, definiu o que chamou de “seis tipos de liderança mundial para combater o coronavírus”, sendo que cada um deles representa uma maneira de abordar a liderança de forma comunicativa, um posicionamento estratégico particular. A seguir a listagem dos seis tipos e um comentário sobre o líder mundial que melhor se identifica com cada tipo.

O otimista. Boris Johnson, o primeiro-ministro britânico, seria o expoente máximo desse tipo de liderança. Seu objetivo principal, e talvez utópico, era manter a maior parte da população o mais saudável possível, enquanto tentava manter a economia britânica em funcionamento. Suas mensagens constantes tinham a ver com conselhos aos cidadãos: manter distância, cuidados com a higiene … É interessante que ele tenha usado um estilo político descontraído nessa estratégia. Já em 5 de março, ele participou de programas de televisão onde deu entrevistas e aproveitou a oportunidade para relatar as medidas adotadas e para mostrar-se tranquilo diante da situação. Toda esta comunicação otimista e descontraída mudou de repente, logo após ordenar o confinamento por três semanas. As razões para sua mudança de ideia são óbvias: o número potencial de vítimas com essa estratégia saiu do controle.

A humana. A chanceler alemã, Angela Merkel, poderia entrar nessa definição, embora eu tenha hesitado – muito – em denominá-la como “a pessimista”. Em 18 de março, em seu único discurso televisionado em 15 anos (exceto no Natal), ela anunciou que, se não agisse rapidamente, entre 60 e 70% da população alemã contrairia o vírus e que a Alemanha estava enfrentando o seu momento mais difícil desde a Segunda Guerra Mundial, um apelo de forte repercussão nos alemães. Ela também falou de tranquilidade e solidariedade, de comprar racionalmente e apenas o que for necessário. No dia seguinte, uma imagem dela vazou nas compras de um supermercado: no carrinho de compras, um pouco de comida e algumas garrafas de vinho. Estar confinada por ter sido infectada obviamente diminuiu sua presença, mas ela não parou de participar e de atuar um único momento nessa crise.

O general. Emmanuel Macron tomou a crise como uma guerra. Literalmente. Em 16 de março, ele fez um discurso muito solene na televisão, com uma linguagem totalmente bélica: “estamos uma guerra”. Guerra sanitária, econômica, social, institucional e cultural, lançando medidas impactantes para cada uma dessas guerras. Não parou de usar esse quadro de guerra durante toda a pandemia, em seus discursos e em seu conteúdo (imagens com o exército, tomando decisões, indo visitar “os campos de batalha” que são hospitais …). Anteontem, ele falava sobre uma nova operação militar, que batizou de “ operação resiliência”. Como general de guerra, a presença de Macron é constante. Ele personalizou em si a maioria das mensagens do governo e é o líder de uma grande batalha épica.

O pioneiro. Se um líder europeu foi pioneiro nessa crise, infelizmente foi Giuseppe Conte, o primeiro-ministro italiano. Como um bom iniciante, teve muitos erros de comunicação quando as infecções e mortes se espalharam pelo norte da Itália, primeiro e depois por todo o país. Naqueles primeiros dias, um documento de medidas de confinamento (quando foram enviadas para 60 pessoas) vazou, fazendo com que muitas pessoas do norte fossem para outras partes do país. Nesse mesmo dia, Conte realizou uma incrível quantidade de 16 coletivas de imprensa, incluindo uma às duas da manhã, para silenciar rumores (de acordo com sua versão, ele fez isso para que essas palavras aparecessem na imprensa logo de manhã). Mas, desde os primeiros dias, Conte se transformou de iniciante em pioneiro. Relatou e tomou medidas adequadamente. Seus discursos se destacam, por serem muito bem elaborados e ele os revisa pessoalmente, com frases de impacto como “vamos ficar longe hoje para nos abraçar amanhã mais forte”. Em março, seu índice de aprovação aumentou 4%.

O nacionalista. Se ouvirmos qualquer discurso de Donald Trump, o reconheceremos, mesmo se mudarmos sua voz. Hoje em dia, esses discursos não mudaram, tornaram-se protagonistas. Se a liderança e a presença são buscadas em tempos de crise, Trump é um exemplo perfeito, com entrevistas coletivas diárias, com duração de uma ou duas horas, cercadas por especialistas (incluindo figuras médicas reconhecidas). Além disso, seu tom, mais otimista – estilo Johnson – mudou em 16 de março, agora com um tom mais sério e solene. Ele também está travando uma guerra e não um simples ataque; está defendendo os Estados Unidos contra inimigos externos: contra o vírus chinês, contra as más decisões da União Europeia, contra a ingratidão europeia que não compra suas máscaras… Trump alerta que o remédio não pode ser pior que a doença. E a doença é o enfraquecimento econômico americano.

O educador. Justin Trudeau era professor muito antes de ser político. Nesta crise, está se notabilizando. Ele foi um dos primeiros líderes a agir contra o Covid-19, já em 11 de março, quando a crise mal chegara ao Canadá. Desde então, mesmo estando em quarentena devido ao teste positivo de sua esposa, não parou de dar conselhos e gerar conteúdo sobre a necessidade de separação entre pessoas, medidas de higiene, auto-confinamento e indicando que o país terá semanas ou meses difíceis. O mais interessante são suas palestras diárias na mídia (sem perguntas), seguidas de entrevistas coletivas de diferentes ministros na mesma sala e com uma porta-voz médica, Dra. Theresa Tam.

 

Fonte: Site de Xavier Peytibi

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