“O cenário político continua dando o tom dos mercados (e não é dos melhores)”, artigo de Magno Xavier

Por Magno Xavier(*)

Na volta do feriadão da Proclamação da República o mercado brasileiro refletiu pessimamente os últimos acontecimentos políticos da semana anterior e os prováveis acontecimentos da próxima semana e o Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores brasileira [B3] despencou para o seu segundo pior resultado do ano, fechando em queda de -1,82%, aos 104.403pts na terça-feira (16/11/2021).

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Em um dia repleto de indicadores econômicos domésticos ruins, após a ressaca da aprovação da PEC dos Precatórios na semana passada na Câmara Federal. E antevendo as duas votações desta mesma PEC na semana que vem no Senado. Além de possíveis novidades em relação às alianças partidárias para as eleições de 2022. O mercado optou por realizar lucros neste primeiro dia útil da semana.

Nesta conjuntura as empresas mais penalizadas pelos investidores foram grandes varejistas como Magazine Luiza e Americanas, empresas ligadas ao comércio, entre elas Locaweb e Méliuz, e a Vale devido à queda persistente do minério de ferro nos mercados internacionais. Na ponta de alta o destaque ficou com a Petrobras, devido à alta do Petróleo e, com Suzano e Braskem devido à alta do Dólar.

Relevante para isso foi o Índice de Vendas no Varejo calculado pela Ciclo (ICVA), divulgado logo cedo, mostrando um recuo de 0,8% em outubro, a primeira queda em seis meses e que indiciou um baixo apetite dos brasileiros por mercadorias frente a escalada da inflação. Era o que faltava pra azedar de vez o dia dos investidores.

Após isto uma enxurrada de outros indicadores só confirmou a tendência. Começando pelo boletim Focus do Banco Central que reviu o IPCA de 9,33% para 9,77% em 2021 e de 4,63% para 7,79% em 2022. O PIB de 2021 também foi revisto – para baixo – em 4,88% contra 4,93% na estimativa anterior. A Taxa Selic se manteve em 9,25% já antecipando o novo aumento de 1,5 pontos percentual no COPOM de dezembro. O câmbio se manteve em R$ 5,50.

Pouco depois, foi divulgado o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), que é considerado uma prévia do PIB oficial divulgado pelo IBGE. E este veio em queda de 0,27% para setembro, confirmando uma retração de 0,14% para todo o 3º trimestre, após uma retração de 0,35% no 2º trimestre. Apesar de uma redução menor agora, isto caracteriza recessão técnica. Que pode se confirmar ou não com os dados do PIB oficial do 3º trimestre a serem divulgados em 02/12.

Ainda pela manhã, a Fundação Getúlio Vargas divulgou o Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S) que saltou de 0,81% para 0,85% da primeira para a segunda semana de novembro. Acumulando alta de 9,63% nos últimos 12 meses. E o Índice Geral de Preços-10 (IGP-10), que voltou a subir em novembro (1,19%) depois de ter caído 0,31% em outubro.

Mas por que eu estou enchendo a cabeça do leitor com tantos números? É justamente para mostrar o quão frágil está nossa Economia nesta retomada pós-Covid-19, perante um ambiente político extremamente conturbado como será daqui até as eleições de 2022. Vejamos agora um panorama muito superficial desta realidade.

O Governo segue na luta pela aprovação da PEC dos Precatórios para fazer o Auxílio Brasil, na esperança de tirar eleitores do ex-presidente Lula. Isso não garante a reeleição do Presidente Jair Bolsonaro por que os R$ 400,00 não se refletirão em votos devido a recessão econômica, pelo contrário, ele pode até perder votos da sua base aliada. Além do imbróglio partidário que se apresenta regionalmente em candidaturas a Deputado, Senador e Vice.

A oposição, encabeçada pelo PT, passa por uma crise de identidade, que os incapacita de por a própria militância nas ruas, ou o faz de uma forma extremamente reduzida. Mas quando se trata da figura do ex-Presidente Lula no jogo, muita coisa pode mudar. Seu poder de persuasão é capaz de impactar o mercado, de lhe trazer um bom Vice, de ter uma ampla cobertura da imprensa nacional e internacional, de arrancar aplausos de pé do parlamento europeu. Tudo se traduzirá nas pesquisas de opinião.

Já os candidatos da 3ª via, no 1º turno servirão muito mais para expor mazelas das duas forças extremas do expecto político do que propriamente para competir com projetos realmente viáveis e capazes de chegar ao 2º turno derrotando um dos polos preestabelecidos.

Enquanto isso, no resto do mundo, as economias emergentes e desenvolvidas seguem em processo de recuperação puxadas por EUA e China. Nesta segunda-feira (15/11/2021) o Presidente americano Joe Biden sancionou o pacote de infraestrutura de US$ 1 trilhão, que inclui financiamento a transportes, internet banda larga e diversos outros serviços. Biden também se reuniu virtualmente com o Presidente da China, Xi Jinping, para discutir formas de evitarem conflitos globais.

Estes dois eventos protagonizados pelo Presidente dos EUA fez as principais Bolsas de Valores do mundo encerrarem o pregão desta terça-feira em alta. Menos a daqui do Brasil pelos motivos que citei acima.

Difícil imaginar um investidor trazendo seu dinheiro para o Brasil nestas condições macroeconômicas e geopolíticas. Mas o Governo Federal tem se esforçado, como vimos na COP-26, no leilão do 5G e agora com as visitas do Presidente Jair Bolsonaro ao Oriente Médio e o Ministro das Comunicações Fábio Faria ao mega empreendedor americano Elon Musk.

(*) Magno Xavier é economista e especialista em gerenciamento de empresas pela UERN e cursa MBA/EAD em Marketing Político pela UnyLeya.

E-mail: [email protected] – Instagram: @magnoxavier_economista – Twitter: @MagnoXavier2

Os artigos assinados não refletem necessariamente a opinião do portal Eleições Brasil, sendo de inteira responsabilidade de seus autores.

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